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Plataforma da Petrobras: a empresa captou quase 7 bilhões de dólares no exterior, numa “janela” de oportunidade
São Paulo — Por cerca de seis meses, de setembro de 2015 — quando a agência de risco Standard & Poor’s
tirou o grau de investimento do Brasil — ao início de 2016, as empresas
brasileiras viveram um período financeiramente caótico. A combinação de
juros
elevados com alta do dólar e bancos com medo de emprestar fez com que
mesmo companhias saudáveis passassem por um sufoco danado.
As mais endividadas, como a siderúrgica CSN e a empresa aérea Gol,
passaram a renegociar suas dívidas. Quem não conseguiu fechar acordo
com credores pediu recuperação judicial — em junho, a operadora Oi, dona
de uma dívida de 65 bilhões de reais, iniciou o maior processo desse
tipo no país.
Além de enfrentar a pior recessão da história, as empresas têm de
superar uma faceta nova da crise: um aperto sem precedentes no crédito.
De janeiro a maio, as companhias instaladas no Brasil emitiram pouco
mais de 19 bilhões de reais em títulos de dívida para financiar suas
atividades, menos da metade do volume registrado no mesmo período de
2015.
Não houve abertura de capital nesse intervalo; algumas empresas, caso da
operadora logística Rumo e da farmacêutica Brasil Pharma, fizeram
ofertas de ações para pagar dívidas, em operações que somaram 3,5
bilhões de reais.
As captações no exterior alcançaram 8,3 bilhões de dólares — mas cerca
de 80% desse valor veio apenas da Petrobras, que emitiu títulos lá fora
para tentar reduzir seu endividamento. Quem recorreu ao mercado o fez
por absoluta necessidade. Afinal, captar recursos está mais caro.
De acordo com um levantamento da empresa de análises econômicas Eleven
Financial, o custo do financiamento das companhias brasileiras no
mercado local mais que dobrou desde 2014. No mercado externo, a alta foi
de quase 60%. A falta de interesse de empresas saudáveis por crédito
também se deve à recessão.
“Muitas estão com grande capacidade ociosa. Não há por que fazer novos
investimentos, ainda mais num cenário de incertezas”, diz Rafael Cagnin,
economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. A
troca de governo representou uma tímida mudança nos ânimos — tanto das
empresas quanto dos investidores.
Além da Petrobras, a mineradora Vale e o frigorífico Marfrig emitiram
títulos de dívida no exterior entre maio e junho, depois da aprovação do
processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no Senado.
“O mercado tem se mostrado muito volátil, mas estão surgindo janelas
para emissões”, afirma Sonia Zagury, diretora de finanças da Vale, que
captou 1,25 bilhão de dólares no início de junho (1 bilhão de dólares
foi usado para pagar dívidas). Em geral, as empresas estão pagando mais
caro para levantar recursos hoje do que há três anos. A Marfrig é uma
exceção, já que seus números melhoraram nos últimos dois anos.
Os títulos atuais pagam um rendimento de 8% em dólares aos investidores,
5% menos do que a emissão feita em 2011. A empresa esperava captar 500
milhões de dólares, mas a demanda superou a expectativa e a companhia
conseguiu 750 milhões de dólares. “O apetite dos investidores nos
surpreendeu”, diz Eduardo Miron, diretor financeiro da Marfrig.
O que pode ajudar as empresas brasileiras a se financiar no exterior é o
fato de a taxa de juro estar baixíssima nos países desenvolvidos.
Os juros estão próximos de zero nos Estados Unidos e estão negativos há
meses em países como Suécia, Suíça, Dinamarca, Japão e, mais
recentemente, até mesmo na Alemanha — ou seja, os investidores estão
pagando para emprestar dinheiro aos governos e às empresas de menor
risco.
“Com os juros tão baixos, os investidores procuram oportunidades, e é aí que podem entrar os papéis das empresas brasileiras
se o país mostrar alguma estabilidade”, diz Roberto Dib, sócio da
assessoria financeira Tag. No Brasil, os juros elevados ainda têm
assustado as empresas, que já estão em situação frágil.
“As companhias têm medo de estruturar uma emissão e precisar pagar muito
para atrair investidores”, afirma Rafael Zlot, gestor de crédito do
banco Brasil Plural. As empresas que decidiram arriscar fizeram emissões
para grupos restritos de investidores. Com maior garantia de demanda, o
risco de susto é menor.
O único financiamento via mercado de capitais que tem crescido é o de
emissão de títulos ligados ao agronegócio, os CRAs, que contam com
incentivos fiscais. As produtoras de celulose Fibria e Suzano emitiram
CRAs em 2015 e neste ano — já captaram, ao todo, cerca de 1,8 bilhão de
reais. E a Fibria pretende arrecadar mais de 1 bilhão de reais neste
ano.
“Com a redução do financiamento do BNDES, tivemos de buscar
alternativas, e o CRA é a mais barata delas. Temos a intenção de fazer
novas captações nesse modelo”, diz Marcelo Bacci, diretor financeiro da
Suzano.
Como o investidor não paga imposto de renda sobre a rentabilidade desses
títulos, o custo de captação das empresas ficou próximo do CDI — se
fossem emitir papéis sem o benefício fiscal, pagariam, em média, 3
pontos percentuais acima do CDI (veja quadro ao lado).
O tamanho do mercado, porém, é pequeno: apesar de o total de emissões de
CRAs ter aumentado 215% nos últimos 12 meses, o volume ficou em 6,6
bilhões de reais, pouco mais de 10% do mercado total de dívida
corporativa no país. As empresas brasileiras se endividaram como nunca
na última década — emitindo títulos no Brasil e no exterior e tomando
empréstimos nos bancos.
Agora estão com o pé no freio, mas os analistas acreditam que o
movimento seja cíclico. “Como a expectativa é de queda de juros no
Brasil, especialmente se o novo governo conseguir aprovar reformas, faz
sentido esperar antes de se endividar. Quando a perspectiva de melhora
ficar mais clara, as empresas devem voltar a captar”, diz o economista
Ricardo Amorim.
Os mais otimistas já começam a retomar os projetos de abertura de
capital. Como EXAME antecipou, a Infraero está contratando bancos para
fazer a oferta de ações de duas subsidiárias. A Caixa Econômica Federal
está estruturando sua seguradora para abrir o capital.
Executivos de mercado acreditam que, se alguma operação sair do papel,
será apenas depois da votação da conclusão do processo de impeachment — quando a incerteza em relação ao Brasil diminuirá, pelo menos um pouco.
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