Ferroligas:
Energia cara ameaça indústria
Cemig diz que contratos de longo prazo só serão firmados após decisão
judicial sobre usinas
INDUSTRIA-G
Protesto. Trabalhadores de metalúrgicas do Norte de Minas se reúnem em
frente
a fábrica na região
LUDMILA PIZARRO
A indústria de ferroligas pode se extinguir no país se o preço da energia
elétrica não se tornar mais competitivos, diz a Associação Brasileira dos
Produtores de Ferroligas e de Silício Metálico (Abrafe). A realidade de
2015, de indisponibilidade de energia a preços competitivos, gera grande
preocupação em relação à extinção dessa indústria, e as demissões ocorridas,
segundo informaram as empresas, se devem à gestão desse cenário, declarou,
por nota, a associação, sobre as demissões que estão acontecendo no setor.
Um
estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) mostra que a
energia elétrica para a indústria do Brasil é a mais cara do mundo, 111%
acima da média mundial.
Segundo o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas
e de Material Elétrico de Pirapora, Buritizeiro e Jequitaí, as demissões de
trabalhadores no Norte do Estado, em 2015, já chegaram a quase 500. Empresas
que há cerca de dois anos contavam com 800 funcionários hoje estão com menos
de cem, afirmam os dirigentes. A Liasa já teve cerca de 800 funcionários,
tem quatro fornos desligados, neste ano já demitiu 218 e está demitindo o
restante. (Está) correndo o risco de fechar as portas ainda neste semestre,
afirma o diretor do sindicato, Aldiério Florêncio Pereira. Segundo ele,
outras empresas estão em situação semelhante. A Liasa foi procurada pela
reportagem, mas preferiu não comentar a situação.
O quadro, segundo a Abrafe que reúne 14 empresas do setor, sendo 11 em
Minas Gerais , se repete nas demais regiões. Atualmente 80% da capacidade
produtiva dessas indústrias não está sendo utilizada. Em 2014, 25% dos
funcionários das empresas de ferroligas foram demitidos. O argumento para as
demissões é o preço da energia elétrica. Eles dizem que precisam de uma
energia mais barata para voltar a produzir, afirma Dirley de Castro Vale,
diretor do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São João del Rei
(Sindmetal), na região do Campo das Vertentes.
Contratos. A situação se agravou com o fim dos contratos de longo prazo que
muitas empresas mantinham com a Cemig. Aldiério explica que, na região de
Pirapora, a maioria dos indústrias tinha um contrato assinado em 2004 e que
expirou em dezembro de 2014, que garantia o preço de R$ 67 por MWh. Hoje
esse
valor no mercado está acima de R$ 300. Segundo dados da Abrafe, a energia
elétrica é o principal insumo do setor e representa até 40% do custo do
produto final.
Para solucionar a situação, a Abrafe tenta negociar com o governo federal
uma
redução da tarifa. Já o presidente da Cemig, Mauro Borges, afirmou na última
terça-feira que tem conhecimento da situação, mas que aguarda uma solução
das
usinas de São Simão, Jaguara e Miranda concessões que estão sendo
disputadas com o governo federal no Judiciário para oferecer melhores
condições nos contratos de longo prazo.
Para o presidente da Trade Energy, Walfrido Ávila, o custo da energia
elétrica no país é alto em função da alta carga de impostos. Enquanto no
mundo a carga tributária está entre 6% e 9%, no Brasil ela pode ultrapassar
50% do valor da energia, afirma Ávila. Ele lembra que entre os setores
prejudicados pelo alto custo da energia elétrica no país está a indústria de
alumínio. O alumínio deixou de ser produzido no Brasil, e hoje temos que
importar, afirma.
Atividade industrial no país é a menor em seis anos, diz CNI
São Paulo. A atividade industrial brasileira caiu em abril para 39,7
pontos,
o nível mais baixo para o mês em seis anos. O indicador segue muito abaixo
dos 50 pontos nível-limite para indicar melhora na atividade industrial. O
setor operou com 67% da capacidade instalada, o mesmo número de março, mas 4
pontos percentuais abaixo do verificado em abril de 2014.
A Sondagem Industrial divulgada nesta quinta pela Confederação Nacional da
Indústria (CNI) mostrou intensa queda na atividade produtiva e reforça as
perspectivas pessimistas para maio.
A desaceleração da atividade produtiva atingiu também o número de
empregados, que caiu mais uma vez. O índice atingiu 43,1 pontos em abril
ante 43,6 em março. É o pior índice da série histórica, registrou na
pesquisa a CNI.
Marcha lenta
Uso da capacidade instalada na indústria brasileira:
Indicador de atividade produtiva: 39,7 pontos
* O nível-limite para indicar melhora é 50 pontos
Os estoques aumentaram, sinal de que as vendas estão fracas
A perspectiva de investimento foi reduzida
Demissões aumentaram
Em Minas Gerais
Índice de Confiança do Empresário Industrial do Estado (Icei-MG) apurado
pela Fiemg:
35,7 pontos em abril
34,9 pontos em maio
* Um ano atrás, era de 44 pontos
Icei nacional: 38,6 pontos
Setores mais impactados em Minas: mineração e siderurgia, cujos valores de
produtos em dólar estão muito baixos, e automotivo, cujas vendas estão em
trajetória de queda