Lúcio Bernardo JR/ Câmara dos Deputados

Ricardo Barros: "A maioria das pessoas chega ao posto de saúde ou ao atendimento primário com efeitos psicossomáticos"
Fabiana Cambricoli, do Estadão Conteúdo
São Paulo - O ministro da Saúde,
Ricardo Barros, disse nesta sexta-feira (15) que a maioria dos
pacientes que procuram atendimento em unidades de atenção básica da rede
pública apenas "imagina" estar doente, mas não está.
De acordo com o ministro, é "cultura do brasileiro" só achar que foi bem
atendido quando passa por exames ou recebe prescrição de medicamentos e
esse suposto "hábito" estaria levando a gastos desnecessários no
Sistema Único de Saúde (SUS). Entidades médicas criticaram a fala de Barros.
"A maioria das pessoas chega ao posto de saúde ou ao atendimento
primário com efeitos psicossomáticos. Por que 50% dos exames
laboratoriais não são retirados pelos interessados? Por que 80% dão
resultado normal? Porque foram pedidos sem necessidade", disse o
ministro, na manhã de ontem (15), em evento na sede da Associação Médica
Brasileira (AMB), em São Paulo.
Barros disse que a população costuma associar uma boa consulta à
solicitação de exames e defendeu que os médicos ajudem a mudar esse
pensamento. "Se (o paciente) não sair ou com receita ou com pedido de
exame, ele acha que não foi consultado. Isso é uma cultura do povo,
mas acho que todos nós temos de ajudar a mudar, porque isso não é
compatível com os recursos que temos", declarou.
"Não temos dinheiro para ficar fazendo exames e dando medicamentos que
não são necessários só para satisfazer as pessoas, para elas acharem que
saíram bem atendidas do postinho de saúde."
O ministro defendeu que os médicos façam uma investigação mais
criteriosa do paciente, antes de solicitar exames ou prescrever
remédios. "O médico tem de apalpar o cliente, fazer anamnese, tem de
conversar com a pessoa", afirmou.
Críticas
Representantes de entidades médicas discordaram da afirmação de Barros
de que a maioria da população procura postos de saúde sem estar, de
fato, doente.
"De maneira geral, qualquer unidade de saúde terá 70% dos exames com
resultado normal. Isso acontece porque o paciente não é bem examinado,
não é bem interrogado, e são solicitados os exames errados. Ou então, na
rede pública, o exame demora tanto para ficar pronto que, até lá, o
paciente já sarou e não vai retirar o resultado", diz Antonio Carlos
Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.
Ele afirma que a solicitação de exames desnecessários está relacionada a
falhas na formação ou na postura do médico. "O paciente não tem culpa
nisso. A maioria tem queixa real, que não é devidamente valorizada pelo
médico", afirmou.
Presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Florentino Cardoso
afirmou que o paciente nem tem o poder de escolher se quer fazer exames
ou tomar remédios e é preciso avaliar melhor os dados informados pelo
ministro antes de qualquer conclusão.
"O julgamento do que o doente precisa é médico. Às vezes está lá que o
doente não foi pegar (o resultado do exame), mas o doente ou o médico
viram na internet. Precisamos saber quais lugares têm essa população de
pacientes atendidos com exames normais ou que não foram buscá-lo.
Porque, senão, fica algo jogado no ar." As informações são do jornal O
Estado de S. Paulo.
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