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segunda-feira, 22 de julho de 2013

Os riscos da mudança de rumo da economia chinesa


Por mais de três décadas a China foi apontada como uma história de sucesso. O país terá de virar agora uma página de seu modelo de desenvolvimento em um momento de grandes riscos na economia global. Os novos líderes, empossados em março, têm consciência do que é preciso fazer e, em uma ditadura como a chinesa, isso é meio caminho andado. Há, porém, uma série de ameaças que podem atrapalhar os planos da burocracia e que o Fundo Monetário Internacional, em sua consulta anual com o governo chinês, circunscreve em relatório.

O progresso na direção de uma economia movida mais pelo consumo do que pelo investimento, ou, de outra forma, impulsionada mais pelo mercado doméstico do que pelas exportações se deu até agora a passos lentos. No front interno, os gastos com o consumo subiram e dividiram com o setor externo e a formação bruta de capital fixo a responsabilidade por um aumento de 7,8% do Produto Interno Bruto em 2012. Outro sinal encorajador é que no ano passado a renda disponível bruta da população urbana subiu pela primeira vez desde 2000. Mas os investimentos em ativos fixos cresceram mais de 20%. "Há sinais de que os desequilíbrios entre investimento e consumo não estão mais piorando, mas uma decisiva guinada em direção a uma economia baseada na demanda ainda está para ocorrer", aponta o FMI.

No setor externo o ajuste foi mais rápido, em grande parte forçado pela crise internacional. O superávit externo chinês foi de 2,25% do PIB, depois de alcançar 10% em 2007. O câmbio artificialmente baixo da China deu lugar a uma valorização de 28,9% da moeda desde 2005, em relação a uma cesta de divisas. Nos últimos doze meses encerrados em junho a valorização real do renmimbi chegou a 6%, mantendo-se perto do dólar e valorizando-se drasticamente em relação ao iene. O staff do FMI calcula que a moeda chinesa ainda está de 5% a 10% subvalorizada.

Os riscos para a China decorrem, então, dos dois tempos do ajuste pretendido. A redução das exportações, o polo dinâmico até há pouco, pode se acelerar com uma eventual piora do cenário externo, sem que o consumo doméstico tome com força seu lugar. O resultado seria um crescimento abaixo dos 7,5%, como algumas autoridades chinesas já cogitam publicamente. O FMI é otimista, prevê 7,7% de crescimento neste e no próximo ano, mas admite boa chance de a recuperação esperada para o segundo semestre na China não se materializar se, por exemplo, "a demanda externa por exportações do país continuar deprimida e/ou se o enfraquecimento recente das atividades se espalhar para o investimento e o consumo".

As principais ameaças externas para a China são, segundo o Fundo, um repique da crise financeira na zona do euro, uma recessão mais duradoura que o previsto nela ou as turbulências advindas da desmontagem das políticas de afrouxamento monetário nos países desenvolvidos. Zona do euro e EUA são destino de 30% das exportações chinesas.

Os riscos internos decorrem da resposta dada à crise de 2008, com um enorme derramamento de crédito - expansão correspondente a 60% do PIB em quatro anos - com grande grau de alavancagem. O estoque de crédito chega hoje a 200% do PIB chinês, ou algo como US$ 24 trilhões. O excesso de liquidez tomou o caminho do sistema bancário paralelo, já relevante o suficiente para provocar estragos, com movimentação estimada de até US$ 1 trilhão.

Os governos locais ampliaram investimentos fora de seus balanços por meio de crédito bancário. A interrupção do fornecimento de liquidez aos bancos pelo Banco Central em junho causou um princípio de pânico no sistema financeiro. Pôr ordem nas finanças dos governos estaduais e municipais não será fácil e um ajuste desordenado, para o Fundo, "derrubará o crescimento, com efeitos adversos globais".

Na China os gastos desses governos não entram na contabilidade do governo central. O FMI estimou em 45% do PIB a "atividade fiscal ampliada" e em 22,5% os gastos dos governos locais, cujos investimentos em infraestrutura tiveram importante papel contracíclico durante a crise. Após a orgia de investimentos, há excesso de capacidade em vários setores, e os líderes chineses precisam evitar agora que um aperto no crédito transfira o problema para os bancos estatais. O freio no crédito contribuirá no médio prazo para um crescimento saudável, mas no curto prazo tem efeito contracionista.

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