
RN: Situação em cadeia que teve rebelião ainda era tensa ontem
Frankie Marcone/16.01.2017/Futura Press/Folhapress
Autoridades de segurança do Rio Grande do Norte estimam que 28 das 32
unidades prisionais do Estado sejam dominadas pelo SDC (Sindicato do
Crime), facção aliada ao Comando Vermelho e alvo de um ataque no sábado que deixou 26 mortos na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, na Grande Natal.
Os assassinatos poderiam desencadear uma reação nas outras cadeias onde a
minoria é de integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) ou de
detentos considerados neutros.
Ser minoria não impediu que membros do PCC articulassem o ataque de
sábado e voltassem a participar de motins na segunda-feira (16) em
Alcaçuz.
Presos ligados ao Sindicato do Crime também subiram no teto dos
pavilhões com bandeiras onde se lia "Queremos paz, mas não iremos fugir
da guerra".
Na estrutura, picharam nomes de aliados como a Okaida, da Paraíba, o
Primeiro Grupo Catarinense, de Santa Catarina, e o Comando Vermelho, do
Rio.
Agentes penitenciários ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo disseram
que a situação na unidade continuava tensa na segunda-feira (16) com a
possibilidade de reação do Sindicato e a resistência de integrantes do
PCC em serem transferidos.
Segundo a presidência do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado,
somente o presídio Rogério Coutinho Madruga - no mesmo terreno de
Alcaçuz e de onde partiram os detentos envolvidos com as mortes -, a
cadeia de Paus dos Ferros, a de Caraúbas e um pavilhão na unidade Mário
Negócio, em Mossoró - esses três no interior -, têm maioria do PCC.
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"Não imaginávamos que eles teriam a ousadia de atacar no presídio em que
não têm maioria. Agora, o risco fica ainda mais intenso", disse Vilma
Batista, presidente do sindicato dos agentes.
O cenário de descontrole é ratificado pelo juiz de Execuções Penais de
Natal, Henrique Baltazar Vilar dos Santos. "O Estado até então só tinha
controle dos muros de Alcaçuz. Dentro, quem mandava já eram os presos.
Agora a situação piorou e se repete nas demais unidades."
Para o procurador-geral de Justiça do Rio Grande do Norte, Rinaldo Reis,
a possibilidade é grande de novos confrontos. "Não tenho nenhuma dúvida
de que essa guerra não acaba aqui. Não estou profetizando, mas apenas
observando que todos os ingredientes estão postos para isso", disse. "As
mortes são extremamente graves, mas não posso dizer que foi uma
surpresa. O sistema penitenciário, não só daqui como de outros Estados,
está em ruínas."
Separação
A divisão de facções por presídios diferentes começou no Estado em 2015,
depois de uma série de rebeliões. Em junho daquele ano, a já frágil
relação entre SDC e PCC foi rompida com a morte do detento Alexandre
Teodósio, o Pelelê, membro da facção de origem paulista que, segundo o
Ministério Público Estadual, desencadeou uma sequência de atos de
violência, com assassinatos de lado a lado, dentro e fora das cadeias.
Segundo promotores que investigaram as organizações, o SDC foi fundado
em 27 de março de 2013 por uma dissidência do PCC. A compreensão do
grupo era de que o estatuto vigente até então era aplicado com excessivo
rigor - como o tratamento com inadimplentes com a contribuição mensal
-, além da insatisfação com a obrigação de prestar contas a detentos de
outros Estados.
O grupo paulista acabou compartilhando a expertise de métodos de atuação
criminosa, "capacitando os presos potiguares quanto ao funcionamento
desse tipo de organização". O governo do Estado não comentou.
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