O ex-goleiro Bruno é hoje um dos seguranças do presídio de Santa Luzia, onde as facções não têm vez e os presos trabalham e fazem cursos
REVISTA VEJA EDITORIA: BRASIL Repórter Hugo
Marques Matéria: Presídios APAC de Santa Luzia Na foto, Lázaro Pereira
caminha ao lado de enxadas. Belo Horizonte, MG -11.01.2017 Foto: Sergio
Dutti/VEJA
No Alto das Maravilhas, no meio de uma região de mata fechada
encravada no município de Santa Luzia, região metropolitana de Belo
Horizonte, há um presídio que só recebe condenados que cumprem pena em
regime fechado. A penitenciária abriga hoje 175 homicidas, assaltantes,
estupradores e traficantes, a maioria com mais de 18 anos de cadeia. Não
há policiais, carcereiros ou seguranças armados. Quem vigia todas as
portas da penitenciária, das galerias e das celas são os próprios
detentos. Não há guaritas de vigilância. O presídio é administrado pela
Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac), uma
organização não-governamental que cuida de outras 47 unidades
semelhantes em quatro estados. A penitenciária foi construída em 2006 em
parceria entre os governos municipal, estadual e federal. Hoje, abriga
um dos detentos mais famosos do país. Bruno Fernandes, ex-goleiro do
Flamengo condenado a 22 anos e 3 meses de reclusão pelo assassinato da
modelo Eliza Samudio, carrega as chaves da própria cela e trabalha
vigiando os demais detentos. Antes de chegar lá, Bruno passou por
presídios convencionais, como o Nelson Hungria, o maior de Minas
Gerais, e o Complexo de Bangu, o maior do Rio de Janeiro. A VEJA, o
ex-goleiro diz que as penitenciárias tradicionais, em vez de recuperar
os presos, acabam por torná-los ainda mais perigosos. “O sistema
convencional não recupera ninguém”, afirma (leia aqui a entrevista).
Todos os presos, inclusive os 113 do regime fechado, passam o dia
fora das celas, nas oficinas e no pátio, onde têm livre acesso a serras
elétricas, pés-de-cabra e tesouras para os trabalhos artesanais. No
semi-aberto, há enxadas, picaretas e foices. Os 62 detentos do
semiaberto se dividem entre oficinas, hortas e trabalho em empresas na
cidade. A associação recebe ajuda do Tribunal de Justiça de Minas para
capacitação de funcionários e gestores. Os presos fazem cursos como
marcenaria, padaria, jardinagem, informática e pintura. A administração
está concluindo uma fábrica de itens de segurança, como luvas e botas.
Todos estudam: 90 condenados fizeram o Exame Nacional Ensino Médio
(Enem) neste ano. Há biblioteca, ‘DVDteca’, computadores e internet para
curso superior à distância. Os presos usam crachá, são chamados pelo
nome, têm livre acesso aos diretores do presídio e são instruídos a
reclamar sobre tudo o que desaprovam.
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