Entidade, contudo, não se posicionou sobre o conteúdo do pedido feito pelo petista - e nem o fará com urgência

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Rio de Janeiro - 03/12/2015 (Ricardo Moraes/Reuters)
O Alto-Comissariado das Nações Unidas para Direitos
Humanos (Acnudh) enviou um comunicado aos advogados do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva informando que o pedido de abertura de
processo para averiguar ações que o petista classifica como “abuso de poder” do juiz Sergio Moro e
dos procuradores da Operação Lava Jato foi registrado pelo órgão. No
comunicado, o Acnudh informa ainda que o governo Michel Temer tem dois
meses para prestar “informações ou observações relevantes à questão da
admissibilidade da comunicação”.
Na prática isso significa que a ONU aceita considerar a queixa de
Lula e dará prosseguimento à análise do caso, mas ainda não se
posicionou sobre o conteúdo do pedido feito pelo petista. O Acnudh
poderia ter rejeitado o registro já no primeiro juízo. A decisão sobre
abertura de processo deve ficar para uma avaliação de peritos, no
segundo semestre de 2017. A missão do Brasil perante as Nações Unidas já
foi informada e, agora, caberá ao governo em Brasília preparar uma
resposta.
Em julho, quatro meses depois de Lula ter sido levado coercitivamente
para depor pela força-tarefa da Lava Jato, os advogados do
ex-presidente protocolaram uma queixa formal contra o Estado brasileiro.
O documento denuncia ações consideradas como “abuso de poder” do juiz
Sérgio Moro e dos procuradores da Lava Jato. O processo também acusa o
Judiciário de “parcialidade” e será avaliado com base na Convenção
Internacional de Direitos Políticos.
Na semana passada, o Comitê de Direitos Humanos da ONU deu início a
seu terceiro e último encontro de 2016. Mas, na agenda, estavam apenas
25 casos de mais de 550 que aguardam para ser avaliados.
A entidade que vai julgar o caso está com um atraso na avaliação de
cerca de 550 outros casos, enquanto peritos da ONU admitem que o exame
de conteúdo do ex-presidente pode ficar para o final de 2017. A entidade
poderia ter dado um tratamento urgente à queixa, mas isso não foi
autorizado. Yuval Shany, presidente do comitê que avalia as petições
individuais, informou que os funcionários da ONU apenas conseguiram
preparar 25 casos nesta semana. “Lula não está entre eles”, disse à
reportagem.
Nigel Rodley, também perito, era outro que sequer sabia da existência
de uma petição apresentada por Lula. “Acho que quando esse caso chegar,
eu não serei nem mais membro do Comitê”, disse. “É uma pena, teria sido
divertido”, lamentou. Para o perito Vitor Manuel Rodriguez, um caso
pode ficar engavetado até um ano e meio antes de chegar às suas mãos.
Mesmo assim os advogados de Lula comemoraram a decisão do Acnudh.
“Avançamos mais um passo na proteção das garantias fundamentais do
ex-Presidente com o registro de nosso comunicado pela ONU. É
especialmente importante saber que, a partir de agora, a ONU estará
acompanhando formalmente as grosseiras violações que estão sendo
praticadas diariamente contra Lula no Brasil”, disse Cristiano Zanin
Martins, por meio de nota.
No texto, a defesa do petista argumenta que o ex-presidente e seus
familiares são alvo de perseguição da Lava Jato. “As evidências
apresentadas na ação se reportam, dentre outras coisas: (i) à privação
da liberdade por cerca de 6 horas imposta a Lula em 4 de março de 2016,
por meio de uma condução coercitiva sem qualquer previsão legal; (ii) ao
vazamento de materiais confidenciais para a imprensa e à divulgação de
ligações interceptadas; (iii) a diversas medidas cautelares autorizadas
injustificadamente; e, ainda, (iv) ao fato de Moro haver assumido em
documento enviado ao Supremo Tribunal Federal, em 29/03/2016, o papel de
acusador, imputando crime a Lula por doze vezes, além de antecipar
juízo de valor sobre assunto pendente de julgamento”, diz a nota.
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