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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Primeira mulher a chegar ao Palácio do Planalto, Dilma Rousseff preserva o grande trunfo dos governos do PT: os programas sociais. Com vida e identidade próprias, ela se prepara para 2014

Início de 2009. O PSDB – assim como hoje, assim como quase sempre – tergiversava entre dois de seus ases. De um lado, José Serra, governador de Estado, prefeito da maior cidade da América Latina, dois ministérios e uma longa trajetória como parlamentar. Do outro, Aécio Neves, dois mandatos como um dos governadores mais bem avaliados do País e 16 anos muito bem vividos e capitalizados na Câmara dos Deputados. O PT? Bem, àquela altura, o PT não tinha sequer um candidato, imaginem só dois, com chances claras de disputar a Presidência da República. Mas tinha Lula, dono talvez da maior capacidade intuitiva já vista na política nacional. E tinha uma chefe da Casa Civil, ex-ministra de Minas e Energia, com uma consistente passagem pelo governo gaúcho, mas absolutamente invicta em disputas eleitorais, simplesmente pelo fato de jamais ter participado de uma. Dois anos depois, precisamente em janeiro de 2013, o tarimbado Aécio Neves refugiava-se comodamente no Senado; o obcecado José Serra, que persegue a Presidência da República desde 40 minutos antes do nada, dava seus primeiros passos rumo ao fenecimento político; e Dilma Rousseff, após seu début nas urnas, tornava-se a primeira mulher a subir a rampa do Palácio do Planalto que não na condição de primeira-dama. 

Da guerrilha ao PT   

Dilma Vana Rousseff não nasceu em Garanhus, mas também assina uma biografia improvável. Ela é filha do búlgaro Pedro Rousseff, um comunista que emigrou para a América Latina nos anos 1930 e prosperou com imóveis, e da dona de casa Dilma Jane. Nasceu em dezembro de 1947. Pedro conhecera Jane no interior de Minas Gerais, onde ela morava com os pais, pecuaristas. Os dois se casaram e passaram a morar na capital Belo Horizonte. Tiveram três filhos: Igor, Dilma Vana e Zana Lúcia, que morreria em 1976. Dilma estudou no tradicional Nossa Senhora de Sion. Levava uma boa vida de classe média alta. Tinha aulas particulares de francês e piano.  

Mas a jovem mineira era espeto, como diziam os antigos. Aos 19 anos de idade já estava na clandestinidade. Em seus anos de militância, integrou organizações defensoras da luta armada, como o Comando de Libertação Nacional (COLINA) e a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). Jura que jamais integrou uma ação armada, embora, nos arquivos da Inteligência, conste que participou de assaltos a banco. Com vários codinomes – Stela, Luiza, Wanda – Dilma “caiu” aos 22 anos. Ficou presa entre 1970 e 1972. Foi torturada e perdeu dez quilos.   

Ao ser libertada, voltou para Minas Gerais e, depois de um tempo, marchou para Porto Alegre, onde o advogado Carlos Araújo, também preso político e seu companheiro por quase 30 anos, cumpria os últimos meses de sua pena. Na capital gaúcha, Dilma reconstruiria sua vida e começaria a edificar trajetória política. Retomou a faculdade de Economia, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, para em seguida participar da fundação do Partido Democrático Trabalhista (PDT), a legenda de Leonel Brizola. “Ela nunca foi PT”, diz sua oposição dentro do próprio partido.   

A partir da década de 80, passou a atuar diretamente na gestão pública. Na administração Alceu Collares, ocupou a Secretaria de Fazenda de Porto Alegre de 1985 a 1988. Entre 1991 e 1993, presidiu a Fundação de Economia e Estatística. De 1999 a 2002, foi Secretaria de Minas e Energia do Rio Grande do Sul, tanto no governo de Alceu Collares quanto no de Olívio Dutra, quando, então, pulou o muro e se filiou ao PT. Em sua gestão na Secretaria, comandou um programa emergencial de investimentos públicos e privados que aumentou a oferta de energia no Estado em mais de 40%. Consta que, em janeiro de 1999, ao se reunir com autoridades do setor elétrico do governo federal, alertou que o País corria sério risco de enfrentar um problema ainda mais grave por conta da carência de investimentos em geração e transmissão. Logo depois, veio o racionamento de energia, mácula do governo FHC.   

Dilma se casou duas vezes. Em ambas, com militantes dos tempos de clandestinidade. O primeiro marido foi Claudio Galeno de Magalhães Linhares, cinco anos mais velho, com quem atuou no Colina e na VAR-Palmares. O casamento foi no civil, em 1967, depois de um ano de namoro. Mas a união com Claudio durou pouco. O segundo marido foi o advogado Carlos Araújo. Eles se conheceram em 1969. Dilma tinha 19 anos; ele, 30. Começaram a morar juntos apenas um mês depois, até ela ser presa, sete meses antes dele. Do casamento nasceu Paula Rousseff Araújo, em março de 1976.   

No poder  

Em 2002, já vista como uma figura proeminente no corpo técnico do PT, integrou a equipe que formulou o plano de governo de Lula para a área de energia. Destacou-se a tal ponto que foi nomeada para o Ministério de Minas e Energia – na ocasião, em alguns círculos do PT, dava-se como certa a indicação do engenheiro nuclear Luiz Pinguelli Rosa para o cargo.   

Poucos desconhecem a história a seguir: Dilma firmou-se como um dos nomes mais fortes do Ministério de Lula, ao assumir a Casa Civil no lugar de José Dirceu após o estouro do caso do Mensalão. Recebeu o epíteto de “Mãe do PAC” ao ser responsável pela condução do pacote de investimentos em infraestrutura lançado no segundo mandato de Lula. Aos poucos, ela se sedimentou como representante do arco que o Lulismo construiu. Apresentou-se como símbolo do conhecimento e visão de setores estratégicos. Ganhou visibilidade, foi eregida a candidata do PT e subiu a rampa do Planalto prometendo a sustentação e o revigoramento do mesmo projeto do seu arquiteto e fiador. Antes, em 2009, quando já se tateava sua indicação à disputa presidencial, teve de passar por tratamento contra um câncer no sistema linfático. Venceu ambos.   

Não foi por mero cálculo eleitoral que a então candidata repetia, dia a dia, que representava a continuidade de Lula. Ela não só pôde defender a ideia de que iria suceder aquele projeto, mas que o integrou e coordenou boa parte de seus programas mais relevantes. No limite, pode-se dizer que Dilma era, até 2010, o segundo nome mais poderoso do País. Tornar-se o primeiro uma vez chegando ao Planalto seria uma consequência natural.  

O início do governo Dilma foi extremamente conturbado. No período de 12 meses, mais precisamente entre junho de 2011 e junho de 2012, demitiu seis ministros envolvidos em denúncias de irregularidades, às quais ela chamou de “malfeitos”. A lista de degolados foi aberta por Antonio Palocci, chefe da Casa Civil e o mais forte inquilino da Esplanada dos Ministérios. Posteriormente, passaram pelo cadafalso Alfredo Nascimento (Transportes), Wagner Rossi (Agricultura), Pedro Novais (Turismo), Orlando Silva (Esportes) e Carlos Lupi (Trabalho). Muitos dizem que neste momento teve início um irreversível processo de esvaziamento do Ministério de Dilma Rousseff – ainda que, a olho nu, observando-se os nomes acima, apenas a saída de Palocci justifica o termo “esvaziamento”.   

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