“O Cavalo de Aço pra mim é paixão. Também é identificação por levar o nome da nossa cidade. É um time de simbolos que nos orgulham, desde o mascote até a história do Frei Epifânio, passando pelo hino”, conta o torcedor Pietro Marino.
“Se eu tiver que definir o Imperatriz com uma palavra, é amor”, pontua Lindemberg Junior, também torcedor do Cavalo de Aço.
O último ano do Imperatriz, nem de longe, retribuiu o amor e importância dados ao clube pela torcida. Em uma temporada obscura, a “Nação de Aço” foi do céu ao inferno em pouco mais de quatro meses. Sem poder ir ao estádio, em um ano marcado pela maior crise sanitária do século, o torcedor acompanhou pelos serviços de streaming, pela TV e pelo rádio as goleadas, os problemas de gestão e a implosão do maior clube do interior do Maranhão.
Há dez dias de uma pré-temporada que ainda é incerta, a Sociedade Imperatriz de Desportos completa 59 anos de sua fundação neste dia 4 de janeiro. O time, que nasceu como SAI, Sociedade Atlética Imperatriz, foi rebatizado em 2000 como SID. No começo deste ano, as promessas de títulos, a briga por um acesso e a participação em quatro competições enchiam o calendário da agremiação e o coração do torcedor de esperança.
O sonho acabou?
Hoje, o que se vê, é um time que está à beira da temporada sem um conselho diretor, já que o ex-presidente do Imperatriz, Adauto Carvalho, renunciou ao cargo juntamente com toda sua diretoria na semana passada. Além disso, a dívida de cerca de R$ 250 mil, feita na gestão do ex-presidente continua sem ser paga, impedindo o clube de inscrever atletas e, consequentemente, disputar as competições regionais e nacionais.
“No Imperatriz estamos sempre de frente a novas crises. Todos os presidentes recentes renunciaram. Dessa vez, porém, o desafio é imenso, pois além da renúncia da diretoria, ficamos com uma obrigação de quitar a dívida”, ressalta Pietro. Sentimento que é compartilhado por Lindenberg: “A ‘vida’ do Imperatriz nunca foi fácil. Sempre passamos por problemas de ordem financeira e estrutural, mas, pela primeira vez, vejo o Imperatriz ameaçado de não participar do campeonatos regionais e nacionais. O sentimento é um misto de tristeza e decepção pela forma que nosso Cavalo de Aço foi gerido durante o ano de 2020”.
A dívida adquirida pelo clube ocorreu por causa da contratação do atacante Breno Caetano, que em uma atuação nada inspiradora fez apenas sete jogos com a camisa do Imperatriz. O problema aconteceu quando o clube formador de Breno, o Fénix, do Uruguai, acionou a FIFA e cobrou o chamado “Direito de Solidariedade” em relação ao atleta, alegando ser clube formador. A FIFA acatou o pedido e determinou o pagamento do valor referente à transação, mas o Cavalo de Aço perdeu o prazo para recorrer e, além de pagar os valores relativos ao “Direito de Solidariedade”, também foi punido e multado pela FIFA, o que aumentou a dívida e travou as contratações.
Tinha uma terceirização no meio do caminho
Mas a má sorte do Imperatriz não parou na contratação infeliz de um atleta, o clube também passou por uma terceirização desastrosa. Em agosto, o Departamento de Futebol foi assumido pela empresa JB Sports. A promessa era de investimentos altos, formação de um time forte, criação de uma categoria de base e a negociação de atletas. Não foi o que se viu. Em menos de uma semana o time perdeu o técnico Paulinho Kobayashi, que alegou não concordar com o novo modelo de gestão. Em um mês, a nova gestão já acumulava goleadas, dispensou toda a base de atletas e contratou jogadores com mais idade e baixo desempenho.
O contrato durou dois meses, o suficiente para o time ser rebaixado precocemente na Série C, mal conseguir entrar em campo nas 9 rodadas restantes e ficar marcado como o clube com pior desempenho no novo formato da terceira divisão, além de passar por momentos vergonhosos, como quando teve que jogar com os calções emprestados pelo Via Nova por falta de material ou quando o então diretor de futebol, Marcelo Lucas, e o presidente do Conselho Deliberativo, Antônio Torres, foram retirados de um voo como consequência de um ato de discriminação, conforme informou a Gol.
O surto de Covid-19
Imputar o péssimo ano do Imperatriz somente à uma gestão ineficiente não é honesto. O clube, assim como todos os outros no país e no mundo, sofreu as consequências da pandemia do novo coronavírus. O Cavalo de Aço não demitiu durante a paralisação do futebol. Manteve os treinos virtuais, reduziu salários de atletas e comissão e manteve seu elenco montado, mas, segundo o ex-presidente, a situação financeira ficou insustentável. Houve perda de patrocínios, inadimplência do sócio torcedor e, na volta dos jogos, não havia público para arrecadar renda.
O Imperatriz foi um dos primeiros clubes brasileiros a anunciar surto de Covid-19 entre o seu elenco. No jogo de estreia contra o Treze, na Paraíba, 12 dos 19 jogadores estavam contaminados, o que resutou no adiamento das duas primeira rodadas do brasileirão para o time maranhense. A grande quantidade de infectados também interferiu nos jogos do Campeonato Maranhense e o Cavalo de Aço foi eliminado ainda nas quartas de final.
Há luz no fim do túnel?
Para a torcida a situação é complicada e a renúncia do ex-presidente Adauto Carvalho deixando uma dívida alta, desanima. O uso político do clube também incomoda.
“Como soluções nos deram: 1) O “sorteio de um caminhão de prêmios”, sendo que nunca arrecadamos grandes quantias com esse tipo de movimento (vide a “motinha” que NUNCA foi sorteada, mesmo com a venda de cupons); 2) A promessa do pagamento de um patrocínio (e se não pagarem?); 3) De um carro que foi doado pela CBF, sendo que não podemos nem vende-lo (ate onde sei o time precisa ficar com esse carro por pelo menos 1 ano); 4) Depender de um “corajoso” que esteja disposto a pagar a dívida que é de aproximadamente US$ 40 mil dólares. É complicado… sou otimista por natureza, mas não sinto firmeza nas soluções apontadas para resolver”, lamenta Lindenberg.
“Digo que foi a política partidária que nos trouxe a essa situação de incertezas e é a política partidária que poderia nos tirar dela mais rapidamente. Mas torço para que possamos nos viabilizar de outras formas, com mais abertura e transparência e maior participação dos torcedores, que são a razão de existir e resistir do time e que são os maiores interessados no seu bem. Acredito que esse é o caminho para um dia termos um clube com autonomia financeira e, então, imune a aventuras políticas”, conclui Pietro.
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