Larvas da traça-grande-da-cera comem e digerem sacos de polietileno em ritmo acelerado. Descoberta pode ser solução para dejetos plásticos.
Federica Bertocchini tem uma profissão interessante e um hobby apaixonante: a bióloga evolutiva é pesquisadora no Instituto de Biomedicina e Biotecnologia da cidade espanhola de Cantabria e apicultora nas horas vagas.
Por mero acaso ela pôde unir sua paixão por abelhas ao seu trabalho de
pesquisa. E disso poderá sair uma solução para o problema dos resíduos
plásticos. A equipe de pesquisadores liderada por Bertocchini publicou
os resultados de sua pesquisa nesta terça-feira (24/04) na revista
especializada Current Biology.
Não é só Bertocchini que ama suas colmeias. A larva da traça Galleria
mellonella também tem uma predileção por elas - mais especificamente
pelos favos de mel. É neles que as traças depositam seus ovos, que se
transformam em larvas, precisando de seis a sete semanas no estágio de
pupa até virarem mariposas.
Um dia, a apicultora amadora retirou as indesejadas larvas parasitárias
de uma colmeia e as embrulhou num saco plástico de polietileno para
jogá-las fora. No entanto, em pouco tempo, as larvas abriram uma saída
através da sacola.
Isso não é necessariamente uma novidade. Já se sabe há bastante tempo
que as larvas da traça-grande-da-cera podem abrir caminho através de
sacos plásticos. Em fóruns de proprietários de terrários ou de
apicultores encontram-se diversos relatos sobre o assunto. Essas larvas
são um alimento popular para répteis e também são usadas como iscas por
pescadores.
Só come ou também digere?
Mas até agora não estava claro se as larvas dessa traça simplesmente
comem o plástico, para mais tarde excretá-lo como microplástico, ou se
elas são capazes de digeri-lo e realmente degradá-lo.
Por exemplo, sabe-se que, além da lã, as traças-das-roupas também
gostam de comer vestimentas de tecido misto, mas digerem apenas os
componentes de lã do tecido. Nesse processo, elas excretam as fibras de
plástico como microplástico.
Bertocchini quis entender melhor esse processo. Por meio da análise
espectroscópica, ela pôde constatar que a traça de guarda-roupa difere
da traça-grande-da-cera, que, aparentemente, não expele nenhum
microplástico, transformando quimicamente o polietileno em
etilenoglicol. Trata-se de uma pequena molécula, um monômero, ou seja,
não é plástico, que consiste de polímeros.
Em cooperação com os colegas Paolo Bombelli e Christopher Howe,
Bertocchini realizou, em seguida, experimentos em laboratórios
bioquímicos da Universidade de Cambridge. Os pesquisadores colocaram
cerca de cem larvas de traça-grande-da-cera em sacolas plásticas comuns
de supermercado no Reino Unido.
Já depois de 40 minutos, perceberam-se furos nos sacos. Após 12 horas,
as larvas haviam digerido 92 miligramas do polímero. Segundo
Bertocchini, essa é uma taxa de degradação extremamente alta.
Descobrir a enzima responsável
A pesquisadora acredita que as traças-grandes-da-cera possuem uma
enzima que quebra ligações químicas presentes tanto na cera de abelha
quanto no plástico. "A cera é um polímero, quase um 'plástico natural', e
possui uma estrutura que se assemelha a do polietileno", explicou a
pesquisadora.
As ligações químicas semelhantes da cera e do polietileno foram
demonstradas por outro experimento: os pesquisadores esmagaram algumas
das larvas da traça-grande-da-cera e colocaram a massa resultante
diretamente sobre o saco plástico. Também aí surgiram buracos na sacola.
Agora, os cientistas trabalham para identificar essa enzima. Se ela
puder ser reproduzida em escala industrial, poderá ser usada para o
descarte ecológico de sacos plásticos ou para degradá-los em aterros
existentes por meio da aplicação direta da enzima.
Observação semelhante foi feita há alguns anos por cientistas chineses
com a larva da traça da farinha. Conhecidas por bicho-da-farinha, essas
larvas também abrem o seu caminho através do plástico, digerindo o
"indestrutível" polietileno, mas com a ajuda de bactérias. E esse
processo parece demorar muitos mais do que no caso das
traças-grandes-da-cera, vorazes comedoras de plástico que aparentemente
utilizam uma enzima. Agora resta descobrir que enzima é essa.
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