O Banco do Brasil acumula perda de R$ 10,5 bilhões em valor de mercado no pregão desta segunda-feira, 22, diante do temor entre os investidores de uma eventual interferência do presidente Jair Bolsonaro, na esteira do episódio envolvendo a Petrobrás. Com queda de mais de 11%, as ações do BB têm desconto frente aos papéis dos rivais privados de 42%, encostando no maior patamar da última década, durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff.
Na ocasião, a diferença chegou aos 46%, mostram cálculos da casa de análise Eleven Financial, a pedido do Estadão/Broadcast. Na época, o BB e a Caixa Econômica Federal foram utilizados pelo governo Dilma para oferecer crédito a juros baixos. Agora, o risco de ingerência política volta aos holofotes.
"A sinalização quanto a novas trocas do comando de empresas estatais preocupa o investidor, afetando as ações do BB", diz o diretor de renda variável da Eleven Financial, Carlos Daltozo, ao Broadcast.
Para chegar ao cálculo do desconto das ações do BB - quanto o papel do BB vale menos do que os bancos privados -, ele considerou o histórico do preço sobre lucro do banco dividido pela média do múltiplo dos pares privados. "Novamente, o risco de ingerência política assombra o BB, que pode ter o presidente trocado cinco meses após a chegada de (André) Brandão. Essa possibilidade fez o desconto chegar próximo ao maior patamar da última década, verificada em 2015/2016", observa Daltozo.
No fim de semana, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que tem de "governar" e trocar "novas peças" que não "estejam dando certo", sinalizando futuros movimentos, após indicar o general da reserva Joaquim Silva e Luna no lugar de Roberto Castello Branco para comandar a Petrobrás.
Sua fala serviu de combustível para a derrocada das ações de estatais no pregão desta segunda-feira e foi reforçada por bancos internacionais demonstrando preocupação e rebaixando recomendações para papéis brasileiros.
O Credit Suisse rebaixou a recomendação para os papéis do BB, de 'outperform' (desempenho acima da média do mercado) para neutro , e o preço-alvo passou de R$ 46 para R$ 38. O Itaú BBA reiterou 'cautela' em relação ao Banco do Brasil, cujas ações foram rebaixadas recentemente. Tanto para o banco suíço quanto para o brasileiro, a preocupação gira em torno do aumento da incerteza política no BB.
"Nada é tão ruim que não possa piorar. Ele (Bolsonaro) prometeu mais para essa semana. Vamos ver o que vem por aí. No caso do BB, que já foi usado para distribuir crédito barato no passado, pode realmente ser ruim. Me lembra 2014, quando Petrobrás e BB passavam por uma situação semelhante", diz um analista estrangeiro, na condição de anonimato.
O presidente do BB, André Brandão, trabalhou normalmente nesta segunda-feira, conforme fontes relataram ao Estadão/Broadcast. Nos corredores do banco, a leitura é a de que Bolsonaro se referiu a "outras estatais", com o banco público fora da ameaça dele. "Mas está tudo no 'achômetro'", diz uma delas.
Isso porque a fala de Bolsonaro também deu combustível ao Centrão, que tem interesse em cargos no alto escalão estatal, principalmente, a presidência do Banco do Brasil. Nos bastidores, ainda que o presidente da República não tenha apontado especificamente para a cadeira, cresceu a percepção de risco de uma mudança no comando do banco público. Uma fonte acredita que os rumores são alimentados também por gente do Palácio do Planalto tentando desestabilizar o executivo.
No mercado, uma eventual troca na presidência do BB é tida como "muito ruim" e é agravada pela possibilidade de ocorrer na esteira da mudança na Petrobrás, refletindo-se na queda das ações do BB.
"O presidente Bolsonaro não simpatiza (com Brandão). Se vai mudar, não sei", afirma uma fonte próxima à equipe econômica. Outro representante da pasta diz, na condição de anonimato, que a troca do BB não está prevista, pelo menos até aqui.
Recuo
Bolsonaro chegou a pedir a cabeça de Brandão em meados de janeiro após o anúncio de um plano de corte de custos, que previa o fechamento de agências e o enxugamento do quadro de funcionários. Na ocasião, o ministro da Economia, Paulo Guedes, convenceu o chefe a manter Brandão no posto.
Ao comentar sobre o episódio pela primeira vez, publicamente, o presidente do BB disse que a crise política gerada pelo plano de fechar agências resultou de um "problema de comunicação". Brandão afirmou, na ocasião, que não havia conversado com o presidente Jair Bolsonaro desde o episódio, mas acreditava que ele tinha entendido a agenda do banco.
Para o Credit Suisse, a agenda do BB será colocada à prova após o episódio envolvendo a Petrobrás. "Embora devamos reconhecer que as iniciativas de reestruturação do Banco do Brasil continuam avançando e a atual administração continua comprometida com a lucratividade, os desenvolvimentos recentes na Petrobrás são certamente um obstáculo significativo", dizem os analistas Marcelo Telles, Otavio Tanganelli, Alonso Garcia e Juliana Araujo, em relatório ao mercado.
Procurado, o BB não comentou.
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