Num mundo saturado pelo binarismo, onde a convivência de apenas duas
filosofias distintas começa a se escancarar, a história de Mark Millar
sobre a discussão do papel de vigilantes na sociedade não poderia
pertencer a uma época melhor. Sujeito a ações de justiça com as próprias
mãos, o mundo Marvel produz em Guerra Civil um apanhado sobre controle,
anarquia e vingança, ganhando contornos trágicos quase familiares ao
trazermos aspectos mundanos para a ficção: por um lado, o do Homem de
Ferro, o registro digno do Macarthismo, do qual o governo poderia ter
uma total autoridade para fazer o que bem entender e extinguir preceitos
básicos de liberdades; por outro, por parte do Capitão América, a
completa independência dos heróis, que, sem controle, agiriam de acordo
com suas próprias prerrogativas e personalidades. Como no mundo
polarizado atual, é difícil escolher um lado.
Essa consistência no contraste entre realidade e universo ficcional
foi sempre um dos grandes atrativos dos filmes de super-heróis modernos.
X-Men, por exemplo, discorria sobre uma sociedade niilista, uma
filosofia do medo, o humanismo e a raiva, a luta entre classes e o
preconceito. A não aceitação dos mutantes na sociedade denunciava muito
sobre um problema que persiste na atualidade e que, por mais
inacreditável que seja, permeia ideologias políticas em pleno 2016:
Trump, nos EUA, culpando os imigrantes por todos os problemas em solo
norte-americano. Thor, por sua vez, expunha um duelo entre irmãos, com
conspiração e desconfiança. Homem de Ferro já evidenciava a natureza
exibicionista do personagem-título, o seu interesse por propaganda e a
visão da guerra. Não à toa, um vilão metalinguístico era o reflexo do
terceiro filme. Já a natureza de Hulk, nos filmes solos e em Os
Vingadores, almejava o autoconhecimento, a busca por uma cura, a fuga de
si mesmo, numa dualidade tal como o médico e o monstro. Homem-Aranha,
nos primeiros filmes, disseminava a descoberta dos poderes, seu
potencial e a maturidade necessária para lidar com eles. Enquanto,
claro, o Capitão América esboçava a persona de alguém que já foi
propaganda governamental, sentiu na pele o que isso significa, e é uma
pessoa adepta a missões e sacrifícios.
O comportamento é uma
constante nos filmes baseados em quadrinhos. Quando não for motivo de
piada, como duas mães chamadas Martha sendo o catalisador de uma
amizade, as cicatrizes presentes nesses múltiplos universos oferecem,
muitas vezes, um espelho social digno - todos buscam algo melhor, apenas
os caminhos são diferentes. Assim como suas resoluções.
Sobre dublagem
Na última sessão 3D que fui, a do lindíssimo Mogli - O Menino Lobo, uma das coisas mais perceptíveis é a insistência das distribuidoras nacionais em naturalizar o contato do público com a dublagem. Mesmo em sessões legendadas, como a que fui, os trailers são dublados - para, evidente, incentivar o costume do público. Não bastassem sessões reduzidas e em horários complicados, além de problemas de educação aqui e acolá, agora temos que aceitar a intransigente tentativa de domesticar o espectador das distribuidoras, que desrespeitam nossas preferências. É uma vergonha.
Na última sessão 3D que fui, a do lindíssimo Mogli - O Menino Lobo, uma das coisas mais perceptíveis é a insistência das distribuidoras nacionais em naturalizar o contato do público com a dublagem. Mesmo em sessões legendadas, como a que fui, os trailers são dublados - para, evidente, incentivar o costume do público. Não bastassem sessões reduzidas e em horários complicados, além de problemas de educação aqui e acolá, agora temos que aceitar a intransigente tentativa de domesticar o espectador das distribuidoras, que desrespeitam nossas preferências. É uma vergonha.
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