Desde sua estreia, longa viu sua nota deslizar cada vez mais em sites de avaliação
O que aconteceu com Mulher-Maravilha 1984 foi realmente peculiar. Antes da estreia, quando apenas poucas pessoas haviam visto o filme, o longa da DC era descrito como a história que precisamos e merecemos e uma sequência digna ao primeiro longa da heroína. Com a estreia na HBO Max, no entanto, o cenário se reverteu. De repente, estávamos diante de um dos filmes mais questionados da história do estúdio, mais ainda do que longas amplamente criticados do universo de heróis da Warner. O que aconteceu?
Não me entenda errado - quando saí do cinema depois de ver a sequência de Mulher-Maravilha, não foi como em 2017, maravilhada com o que tinha visto. Me vi, sim, me deixando levar pela suspensão da descrença que o filme de Jenkins pedia de mim. Mas mesmo com todos os problemas (que eu entendo e escolho não me incomodar), acho curioso que o filme tenha recebido tamanho ódio online. Atualmente, Mulher-Maravilha 1984 é o filme do DCEU com a nota mais baixa na avaliação do Imdb, 5,5. Para fins de comparação, Esquadrão Suicida tem 6, e Liga da Justiça tem 6,3.
Não estou aqui para rebater aquelas críticas tradicionais que o filme da Patty Jenkins recebeu (já fiz isso em um OmeleTV e poderia falar por mais horas e horas, mas não quero soar repetitiva), até porque eu entendo a grande maioria dos argumentos, e não foram eles que baixaram a nota do longa. Uma nota como 5,5 no Imdb fala mais alto do que a qualidade do filme. Ela grita algo. E, geralmente, diz mais sobre os avaliadores do que sobre o filme em si.
O que aconteceu?
Vou começar a minha linha de raciocínio entregando aos haters mais um motivo para questionar Mulher-Maravilha 1984. Quando eu saí do cinema, fiquei com uma pulga atrás da orelha, imaginando que existia sim um motivo para que o filme viesse a receber críticas duras e embasadas: a cena em que a nossa heroína salva as crianças no Egito. Digo isso porque Gal Gadot é uma atriz israelense com questões tão mal resolvidas com o mundo árabe que o primeiro filme chegou a ser banido em diversos locais do Oriente Médio. Foi um movimento minimamente questionável da produção.
Esse argumento é o único que sustentaria uma nota tão baixa, principalmente porque produções com notas abaixo de 6 no Imdb geralmente indicam alguma controvérsia política. Mas considerando que tão poucas pessoas e publicações falaram sobre a questão, não sinto que foi a geopolítica pobre que reduziu a nota do filme de Jenkins.
Tampouco posso argumentar que foi uma questão simples de machismo, uma segunda teoria válida. Embora seja justo imaginar que um filme protagonizado por uma mulher receba hate - porque sim, isso infelizmente acontece -, o primeiro longa da Mulher-Maravilha está avaliado em 7,4, um ponto que tornaria meu argumento fraco (apesar de não totalmente infundado, já que a média de notas dadas ao filme por usuárias mulheres no Imdb é 6,1 enquanto dos homens é 5,4).
Mas Mulher-Maravilha 1984 também foi um caso totalmente à parte por ter sido o único filme de herói (e um dos únicos filmes, ponto) a ser lançado em plena pandemia. Isso implica diretamente em dois aspectos: em primeiro lugar, é diferente ver um filme grandioso de ação nas telinhas. Na tela do cinema, a trilha sonora de Hans Zimmer cresce e, talvez, a megalomania do vilão Maxwell Lord possa parecer destoante em uma experiência caseira (eu consigo imaginar como os gritos de Pedro Pascal no final de 1984 podem soar ridículos vistos, pela primeira vez, na tela de um computador, por exemplo). Mas mais do que isso, o lançamento do filme fora dos cinemas exclui, também, a experiência coletiva, em que você pode se deixar levar pela reação e animação de outros ao seu redor.
Não há uma resposta fácil, mas a teoria mais provável, é a da pressão da expectativa. Não digo isso apenas porque Mulher-Maravilha 2 foi adiado diversas vezes, e tinha sua primeira data de estreia marcada para dezembro de 2019. Mas na ansiedade pela sequência, Mulher-Maravilha 1984 também era a última esperança para a Trindade da DC, após a saída de Ben Affleck e a dúvida quanto ao futuro de Henry Cavill. Muito mais próximo do tom descontraído e leve deAquamane Shazam!, o filme de Jenkins se distanciou do tom sombrio entregando uma aventura dos anos 1980 mais leve do que muitos esperavam.
Fato é que Mulher-Maravilha 1984 é um filme diferente, sim. Patty Jenkins criou um longa que funciona isoladamente e ousou se basear mais nas aventuras cinematográficas dos anos 1980 do que nas fórmulas tradicionais dos filmes de herói atuais. E isso foi recebido de modo discordante pelo público, para o bem ou para o mal. Ainda mais lançado em um momento peculiar na cultura pop (e no mundo inteiro), Mulher-Maravilha 1984 talvez deixe seu confuso legado como o filme que dividiu opiniões, servindo também como reflexo de um mundo dividido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.