Sem previsão de liberar a segunda parcela do auxílio emergencial de R$ 600, Bolsonaro falou em caos econômico com isolamento social por causa do coronavírus e diz que está pronto para conversar com governadores que se desculparem
Sem previsão de liberar a segunda parcela do auxílio emergencial de R$ 600 aos trabalhadores informais – e sem milhões terem recebido nem mesmo o primeiro pagamento, Jair Bolsonaro traçou um cenário caótico e aumentou o tom apelando aos governadores para abrir o comércio em meio ao pico da pandemia do coronavírus na manhã desta quinta-feira (14) em frente ao Palácio da Alvorada.
“O Brasil está se tornando um país de pobres. O que eu falava lá atrás que era esculachado, vocês estão vendo a realidade. Para onde está indo o Brasil. Vai chegar ao ponto em que o caos vai se instalar por aqui. Lockdown, vão fechar tudo. Não é esse o caminho. Esse é o caminho do fracasso, quebrar o Brasil. Governador, prefeito, que porventura entrou nessa onda lá atrás, faz como eu já fiz algumas vezes na minha vida: se desculpa e faz a coisa certa”, afirmou Bolsonaro, bastante exaltado.
O presidente afirmou que lamenta as mortes pelo coronavírus e ressaltou que está pronto para conversar com prefeitos e governadores que pedirem desculpas.
“O Brasil está quebrando. E depois de quebrar, a economia não recupera. Estamos fadados a ser um país de miseráveis, como países da África subsaariana. Nós temos que ter coragem de enfrentar o vírus. Está morrendo gente, está. Lamento. Lamento. Mas, vai morrer muito, mas muito mais se a economia continuar sendo destroçada por essas medidas. Tem que reabrir. Nós vamos morrer de fome. A fome mata. A fome mata. É um apelo que faço aos governadores. Reveja esta política. Eu estou pronto para conversar”.
Empregos
Antes de se dirigir aos jornalistas com um papel na mão, Bolsonaro perguntou a apoiadores: “Como é que está o emprego? Muita gente sem emprego por aí?”.
Aos jornalistas, o presidente disse que conversou com o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, sobre a prorrogação do pagamento de dívidas mobiliárias no banco estatal.
“Vi uma notícia agora na mídia e liguei para o Pedro. E era mais grave do que eu tinha lido. 2,3 milhões clientes da Caixa Econômica que pagam casa própria pediram para pausar o crédito. Ou seja, como regra, a Caixa permitiu atraso até dois meses. A Caixa resolveu prorrogar por mais um mês, três meses e nessa prorrogação, 2,3 milhões de um universo de 5 milhões. Ou seja, o pessoal não tem dinheiro para pagar a casa própria. E o Pedro Guimarães, conversei com ele agora, de comum acordo, ele disse que vai aumentar para quatro meses. Porque não adianta apenas prorrogar, se o elemento que perdeu emprego, teve redução de salário, não tem como pagar. O que está sobrando pra ele é pra comprar comida”, disse.
Bolsonaro ainda perguntou aos jornalistas sobre a redução de salários pagos pelas grandes empresas de comunicação.
“É igual vocês da imprensa. Pelas informações que tive: Globo, Folha, Estadão e Jornal do Comércio foram reduzidos 25% dos salários de vocês. Informação que eu tive. Eu peço que vocês confirmem. Silêncio, pô. Balançou a cabeça que foi”, disse.
Mandetta e Argentina
O presidente, no entanto, encerrou a entrevista ao ser indagado sobre entrevista do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que previu, em entrevista à CNN dos EUA, um cenário caótico no país, com mais de mil mortes por dia. “O Mandetta é passado”, disse, saindo do local.
Antes, Bolsonaro também criticou um jornalista que fez uma comparação das políticas de combate ao coronavírus entre o Brasil e a Argentina, que tem um dos menores números de mortos pela doença na América Latina.
“Argentina? Vamos falar da Suécia. A Suécia não fechou. Você tá defendendo. Vamos para a ideologia. Você pegou um país que está caminhando para o socialismo: a Argentina”, disse.
Com 10 milhões de habitantes, a Suécia, que optou por não aderir ao isolamento social, já registra mais de 3 mil mortes pela doença – uma das maiores porcentagens de mortos por milhão de habitantes.
Com 44 milhões de habitantes, a Argentina, que desde o início adotou o isolamento social – medida que foi estendida até 24 de maio – tem cerca de 6 mil casos confirmados e pouco mais de 300 mortes.
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