O PSOL protocolou nesta terça-feira (7) uma ação no Supremo Tribunal
Federal (STF) na qual pede a descriminalização do aborto por parte de
gestantes que tenham até três meses de gravidez. O partido argumenta que
impedir a interrupção das gestações viola princípios fundamentais das
mulheres.
Em novembro do ano passado,
a 1ª Turma do Supremo decidiu, ao analisar um caso específico, que o
aborto até o terceiro mês de gravidez não é crime. Apesar de ter sido
uma decisão de uma turma, que é formada por apenas cinco dos 11
integrantes do tribunal, a iniciativa pode influenciar a decisão de
juízes pelo Brasil.
Na ocasião, os magistrados analisavam da 1ª Turma analisavam um
processo em que cinco pessoas foram presas em uma clínica de aborto em
Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. Para os ministros Luis Roberto
Barroso, Rosa Weber e Edson Fachin, a criminalização do aborto ainda no
primeiro trimestre da gravidez fere a Constituição.
À época, Barroso disse que nenhum país desenvolvido criminaliza o
aborto na fase inicial da gravidez e citou como exemplos a Alemanha e a
França.
O ministro do STF ressaltou ainda que é dever do Estado evitar o aborto
com políticas de educação sexual, distribuição de anticoncepcionais e
uma rede de proteção e apoio às mulheres.
O Supremo, no entanto, não definiu se essa decisão valerá para todos os futuros casos, ainda que possa abrir precedentes.
Dois artigos do Código Penal tratam do aborto com consentimento da
gestante. A lei estabelece penas de um a três anos de prisão para a
mulher que provocar aborto em si mesma ou consentir que outra pessoa o
provoque. Define ainda punição de um a quatro anos de prisão para a
pessoa que realizar o aborto com consentimento da gestante.
Na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF)
protocolada nesta terça no STF, o PSOL argumenta que a lei em vigor
viola os princípios fundamentais da dignidade da pessoa humana, da
cidadania e da não discriminação, além dos direitos fundamentais à
inviolabilidade da vida, à liberdade e à igualdade.
De acordo com dados de uma pesquisa sobre aborto apresentada pelo
partido no documento, mais de 500 mil mulheres fizeram aborto no Brasil
em 2015.
Liminar
O PSOL pede que seja concedida uma liminar (decisão provisória) para
suspender prisões em flagrante, inquéritos policiais e andamento de
processos ou efeitos de decisões judiciais que pretendam aplicar ou
tenham aplicado os artigos do Código Penal a casos de interrupção da
gestação induzida e voluntária realizada nas primeiras 12 semanas de
gravidez.
A legenda solicita ainda que o tribunal superior reconheça o direito
constitucional das mulheres de interromper a gestação e dos
profissionais de saúde de realizar o procedimento.
“Ao embrião ou feto é reconhecido o valor intrínseco de pertencimento à
espécie humana, por isso, a proteção infraconstitucional gradual na
gestação. No entanto, essa proteção não pode ser desproporcional: tem
que ter como limites o respeito à dignidade da pessoa humana, à
cidadania, à promoção de não discriminação e aos direitos fundamentais
das mulheres”, argumenta o partido na ação judicial.
Câmara
A decisão do ano passado da 1ª Turma do STF levou a Câmara dos
Deputados a se movimentar para tentar impedir o aborto mesmo nos casos
com menos de três meses de gestação.
No mesmo dia, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), determinou a criação de uma comissão especial para discutir o tema. O objetivo de Maia é rever a decisão tomada pelo Supremo sobre aborto.
À época, Maia disse que pretende adotar essa medida toda vez que o STF
resolver legislar no lugar do Congresso, "ratificando ou retificando a
decisão" do tribunal.
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