Não precisa ser muito inteligente, nem mesmo razoavelmente inteligente,
para entender por que os partidos grandes mais prejudicados por
denúncias envolvendo empreiteiras foram PT e PMDB apesar de expoentes do
PSDB estarem tão envolvidos quanto; desde o início da Operação Lava
Jato, em março de 2014, houve seletividade nas investigações.
E o PSDB, obviamente, não vinha sendo poupado por ter não corruptos,
ainda que a intenção seja levar a sociedade a esse entendimento.
A Lava Jato não quer investigar tucanos. Investigou até a Marinha,
mas não esbarrou nas estripulias das Odebrecht, Camargo Correa et
caterva nos Estados e Municípios, em escândalos que se tornaram questões
federalizadas pelo envolvimento desses corruptores que atuaram em todos
os níveis da administração pública.
Trocando em miúdos: a Odebrecht não pode ser sujinha nos negócios que
fez com a Petrobrás e limpinha nos negócios que fez com o Metrô e o
Rodoanel em São Paulo e com a Cidade Administrativa em Belo Horizonte /
Minas Gerais.
E do que tratam as delações da Odebrecht e a segunda lista de
denúncias ao STF que está para ser emitida pelo procurador-geral da
República, Rodrigo Janot? Tratam de casos escabrosos envolvendo o PSDB
que ficaram ocultados até hoje por conta da seletividade da primeira
instância da Lava Jato, decorrente da parcialidade da República de
Curitiba contra o PT e a favor do PSDB, ou do "Cara" que tanto encanta a
Lava Jato.
Todavia, o ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Júnior
afirmou, em sua delação premiada à Lava Jato, que se reuniu com Aécio
Neves para tratar de um esquema de fraude em licitação na obra da Cidade Administrativa para favorecer grandes empreiteiras.
A reunião, segundo o delator, ocorreu quando o tucano governava Minas.
Benedicto Júnior, conhecido como BJ, disse aos procuradores que, após
o acerto, Aécio orientou as construtoras a procurarem Oswaldo Borges da
Costa Filho. De acordo com o depoimento, com Oswaldinho, como é
conhecido, foi definido o percentual de propina que seria repassado
pelas empresas no esquema.
Ainda de acordo com o delator, esses valores ficaram entre 2,5% e 3% sobre o total dos contratos.
Oswaldinho é um colaborador das campanhas de Aécio Neves. O
ex-executivo da Odebrecht afirmou que o próprio Aécio decidiu quais
empresas participariam da licitação para a obra.
Projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, a Cidade Administrativa,
sede do governo mineiro, custou R$ 2,1 bilhões em valores da época. Foi
inaugurada em 2010, último ano de Aécio como governador, sendo a obra
mais cara do tucano no governo de Minas.
Com Oswaldinho, que foi presidente da Codemig (Companhia de
Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais), as empresas negociariam,
ainda de acordo com Benedicto Júnior, como seriam feitos os pagamentos.
As informações fornecidas por BJ em sua delação premiada foram
confirmadas e complementadas, segundo pessoas com acesso às
investigações, pelos depoimentos do ex-diretor da Odebrecht em Minas
Sergio Neves.
O mesmo Sergio Neves aparece nas investigações como responsável por
operacionalizar os repasses a Oswaldinho e é ele quem detalha, na
delação, os pagamentos a Aécio.
Líder do consórcio, que contou com Andrade Gutierrez, OAS e Queiroz
Galvão, a Odebrecht era responsável por 60% da obra e construiu um dos
três prédios que integram a Cidade Administrativa, o Edifício Gerais.
Benedicto Júnior e Sérgio Neves estão entre os 77 funcionários da
Odebrecht que assinaram acordo de colaboração com a Lava Jato. As
delações foram homologadas pela presidente do STF (Supremo Tribunal
Federal), Carmén Lúcia, e enviadas à Procuradoria-Geral da República,
sob sigilo.
A qualquer momento, segundo vem sendo amplamente noticiado, Janot
fará denúncia de cerca de 80 nomes ao STF por conta dessas delações.
Procuradores da Lava Jato exigiram dos advogados da Andrade
Gutierrez, no fim de 2016, uma espécie de complementação das delações de
seus executivos, que eles chamam de "recall". Isso porque, segundo
investigadores, funcionários da Andrade não detalharam o esquema de
propina na Cidade Administrativa e em outras duas obras especificadas
nas delações da Odebrecht: a construção do Rodoanel e do Metrô, em São
Paulo.
Sim, é isso mesmo. Serão investigadas obras até aqui ininvestigáveis.
Obras nas quais vicejam escândalos de bilhões de reais que o Ministério
Público restringiu a funcionários do Metrô, da CPTM e do Rodoanel, sem
denunciar um mísero político apesar das vultosas quantias envolvidas e
de esses esquemas terem atravessado os vinte anos de governos tucanos em
São Paulo.
Não é à toa que militantes tucanos na mídia, como Reinaldo Azevedo ou
Merval Pereira, ou militantes tucanos no STF, como Gilmar Mendes, já
estejam comentando que querem colocar "todos no mesmo saco", como se
corrupção tucana fosse aceitável e corrupção petista não.
Aliás, o sigilo inquebrantável das delações da Odebrecht, que boatos
diziam que seria quebrado na última sexta-feira, só existe porque as
delações da Odebrecht afetam primordialmente a tucanada. Ou alguém
acredita que haveria sigilo tão sigiloso se as informações afetassem o
PT?
É por isso que estão fazendo tanta cera para levantar o sigilo das
delações da Odebrecht e para divulgar a lista de denunciados pelo
procurador-geral da República ao STF com base nessas delações, porque o
Ministério Público e o STF estão agindo politicamente por medo da reação
não do PSDB, mas da mídia tucana se incomodarem tucanos blindados.
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