O Governo do Estado do Pará e as empresas Vale e Cevital Groupe, esta
última da Argélia, assinaram nesta sexta-feira (4), no Palácio do
Governo, um protocolo de intenções que representa um novo passo no
processo de implantação de uma siderúrgica em Marabá, no sudeste
paraense. O documento foi assinado pelo governador do Estado, Simão Jatene, pelos presidentes das companhias, Murilo Ferreira, da Vale, e Issad Rebrab, da Cevital, e outras autoridades, como o senador Flexa Ribeiro e os deputados federais Beto Salame e Julia Marinho, o presidente da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), Márcio Miranda, secretários de Estado, deputados estaduais, prefeitos e representantes de entidades empresariais.
O protocolo trata dos parâmetros que embasam o projeto de
implementação de uma siderúrgica em Marabá, que vinha sendo estudado
pela Vale e agora passará a ser conduzido pela gigante argelina. A
empresa já havia investido cerca de US$ 300 milhões, incluindo gastos no
desenvolvimento de engenharia, com vistas a construção da siderúrgica
em Marabá. Entre os termos do acordo, a Vale coloca a disposição da
Cevital, além de cooperação técnica, todos os estudos e projetos já
elaborados, a transferência do terreno de sua propriedade que seria
destinado a construção da Alpa, suprimento em bases comerciais de
minério de ferro e serviços logísticos para o empreendimento, além das
licenças ambientais do referido projeto. “A Vale irá ceder tudo isso
sem ônus ao empreendedor. A mineradora está muito satisfeita em manter
esse entendimento mútuo com o Governo do Estado e quer continuar a dar a
sua contribuição para que esse grande empreendimento importante para a
região se torne perene e reduza as disparidades sociais”, apontou o presidente da Vale, Murilo Ferreira.
Segundo a Cevital Groupe, a expectativa da empresa é que as obras
para a instalação da nova siderúrgica comecem ainda este ano e entre em
operação em 2019. A previsão é que os investimentos na siderúrgica somem
o montante de 2 bilhões de dólares. Esse valor total também deve ser
captado com outros investidores. Quando estiver em funcionamento, a
siderúrgica de Marabá deve gerar 2,5 mil empregos diretos, além de seis a
oito mil empregos indiretos. “Acreditamos que isso vai proporcionar
uma reforma muito grande dentro do setor, em Marabá, através da geração
desses empregos. O panorama social da cidade deve ser sensivelmente
modificado com esses investimentos”, avaliou Paulo Hegg, representante da Cevital no Brasil, para quem o Pará é a porta de entrada do grupo no país.
Siderúrgica vai fabricar trilhos para ferrovias e aço em pó
A siderúrgica de Marabá terá capacidade para gerar 2,7 milhões de
toneladas de aço com a produção de bobinas de aço, ferro gusa,
“biletts”, “blooms”, entre outros. Issad Rebrad, presidente da Cevital
Groupe, anunciou também que um dos produtos da siderúrgica de Marabá
será a fabricação de trilhos para a estrada de ferro. A empresa é líder
na Europa na produção de trilhos, com uma fábrica sediada na Itália e
agora pretende ser a primeira a produzir trilhos na América Latina. “Marabá será conhecida, brevemente, como a principal fornecedora de trilhos para estrada de ferro de toda a América Latina”,
garantiu Rebrad ao informar que a empresa também vai trazer para o Pará
a tecnologia de aço em pó, que poucas empresas no mundo detêm.
A Cevital também vai disponibilizar aço com preços competitivos para
empresas implantadas no polo metal mecânico que deve ser desenvolvido em
Marabá, um sonho antigo da população. O prefeito de Marabá, João Salame, considerou o momento muito importante para o desenvolvimento do estado. “A
verticalização das nossas riquezas é uma luta antiga da nossa
sociedade, e que por vezes foi tratada de maneira inconsequente,
idealista, sem nenhuma base com a realidade, e eu acho que agora nós
estamos encontrando um caminho mais seguro. Parabenizo o governo do
Estado do Pará pelo esforço que tem feito. Acho que o momento é de
superar qualquer divergência e unir esforços”, reiterou Salame.
O governador Simão Jatene reiterou a
responsabilidade de todos os envolvidos em reportar para a sociedade
todos os passos que estão sendo dados na direção da atração de empresas
para o Pará, como é o caso da instalação da siderúrgica em Marabá. “O
que nós não queremos é reproduzir o que se fez no passado, onde
criou-se uma dramática expectativa de negócios que foi frustrada,
machucando muitas pessoas. O que nos queremos é que esse projeto nasça
entranhado não apenas nos desejos dos seus atores, mas no seio da
sociedade”, ponderou Jatene, que pediu para que a população
acompanhe cada um dos movimentos, entendendo as dificuldades de cada
passo dessa implantação. “Isso certamente tornará o ambiente mais
amistoso, cooperativo e lucrativo. É isso que nós estamos querendo. Que
cada um saiba os passos que serão dados, especialmente neste momento de
crise. O principal é que esse movimento não é fruto de mera vontade
política, que sempre existiu, mas principalmente resultado de um esforço
para tornar o projeto economicamente viável e atrativo aos
investidores. O Estado deve criar condições para isso e foi o que
buscamos fazer”, disse Jatene, que em maio de 2015 esteve na
Argélia conhecendo a estrutura da Cevital, uma das maiores empresas do
continente africano, com atuação em diversos ramos e segmentos.
Verticalização da produção – A atração de empresas
interessadas em verticalização de matéria prima para o Pará faz parte da
estratégica do Estado em verticalizar a sua produção. A agregação de
valor é a maneira mais eficaz de desenvolver uma economia e,
consequentemente, proporcionar um crescimento mais uniforme, pois gera
mais receita, renda e emprego. Além disso, com produtos mais elaborados,
é possível atingir também mercados mais exigentes.
Para o titular da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme), Adnan Demachki,
que integrou a comitiva que esteve na Argélia, resultando no interesse
da Cevital em investir no Pará, e conduziu as negociações entre a
empresa e a Vale, esse projeto traduz os esforços que o governo vem
empenhando em busca de diversificação e desenvolvimento da economia
paraense. “O grupo argelino vem realmente ao anseio do Estado, que é
de agregar valor a seus produtos e vários investimentos de acordo com
as potencialidades de cada município. Com isso, vem a geração de
milhares de empregos, e esse é o grande desafio em um momento em que o
país já perdeu milhares de postos de trabalho. Sabemos que ainda existem
muitos desafios pela frente, mas a ideia desse termo de acordo é
justamente unir esforços para superá-los”, explicou o secretário.
O protocolo também prevê um contrato de fornecimento de minério de
ferro pela Vale com preços mais competitivos para a siderúrgica,
viabilizando economicamente a fábrica, com redução do custo de produção.
A Vale irá ainda construir um ramal ligando a área da siderúrgica à
Estrada de Ferro Carajás, reduzindo custos de infraestrutura para a
siderúrgica. A Cevital também se comprometeu em fornecer aço mais barato
para venda interna em Marabá. A iniciativa vai atrair mais
investimentos para a verticalização da produção local. Já o Governo do
Estado, além de intermediar a implementação da siderúrgica no sudeste
paraense, firmou compromisso de garantir os incentivos fiscais para a
atividade, conforme já previa lei aprovada na Alepa, e sancionada pelo
poder Executivo Estadual, confirmando com a proposta a estratégia do
governo estadual em criar mecanismos e priorizar as empresas que busquem
verticalizar a produção em território paraense.
Também participaram do evento os prefeitos de Parauapebas e de Palestina do Pará, Valmir Mariano e Valciney Gomes, respectivamente, e os deputados estaduais Haroldo Martins, Ana Cunha, Thiago Araújo, João Chamon, Tião Miranda, Renato Ogawa, Luis Seffer e Milton Campos.
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