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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Mercado global de minério de ferro enfrenta nova crise

O mercado de minério de ferro gira em torno da China, que recebe cerca de 70% das cargas marítimas, a maioria do Brasil e da Austrália

O mercado global de minério de ferro enfrenta uma crise de demanda justo após ser atingido por uma crise de oferta. O surto do coronavírus na China causa preocupações de que o consumo seja afetado, derrubando os preços que subiram no ano passado pela interrupção das operações nas minas.
Com a propagação da doença, surgem alguns sinais significativos: algumas usinas na China começaram a reduzir a produção de aço; projetos de construção e manufatura, incluindo a fabricação de automóveis, desaceleram; e um amplo segmento da maior economia da Ásia permanece parado.
O mercado de minério de ferro gira em torno da China, que recebe cerca de 70% das cargas marítimas, a maioria do Brasil e da Austrália. Em 2019, a indústria foi abalada pelo rompimento de uma barragem da Vale que reduziu a oferta, causou um déficit no mercado e contribuiu para que os preços atingissem US$ 120 a tonelada. Assim como esse choque foi eliminado com a retomada da produção, a crise de saúde na China agora ameaça a demanda.
A demanda por minério de ferro e aço “provavelmente será atingida”, disse Caroline Bain, analista-chefe de commodities da Capital Economics. E isso sem considerar dados recentes que indicavam desaceleração da construção antes do surto, além de um salto das exportações de um importante porto australiano, disse em nota.
No ano passado, as usinas da China produziram quase 1 bilhão de toneladas de aço, respondendo por mais da metade da produção global. Como regra geral, cerca de 1,6 tonelada de minério de ferro é necessária para produzir 1 tonelada de liga usando um alto-forno.
Em Cingapura, os futuros do minério de ferro despencaram 11% na semana passada e fecharam em US$ 78,01 a tonelada na segunda-feira, o menor nível desde novembro. O Citigroup alertou que os preços poderiam cair abaixo de US$ 70.

Cortes

Há sinais de turbulência no setor automotivo, um consumidor de aço, tanto na China quanto em outros países. O surto deve reduzir as vendas de automóveis da China em até 5%, de acordo com a Associação de Carros de Passeio da China. A Hyundai Motor decidiu interromper a produção na Coreia do Sul devido à falta de componentes.
A “pandemia de repente se tornou uma séria ameaça para os chineses, para as economias globais e para os EUA”, disse a Moody’s Analytics em nota. “O quão séria é difícil de medir dadas as grandes incógnitas quanto à propagação e virulência do vírus. No entanto, não há bons cenários.”
Mesmo antes do surto, a expectativa era de queda dos preços do minério de ferro, já que as principais mineradoras, incluindo Vale e as australianas Rio Tinto e BHP, aumentaram a produção após as interrupções do ano passado. Esses planos ainda podem sofrer mudanças.
“O coronavírus pode pesar na atividade econômica em geral e atrasar ou interromper o envio de mercadorias a granel”, disse Xiao Fu, chefe da estratégia global de commodities na BOCI Global Commodities. “Se houver interrupção sustentada da demanda, produtores de minério de ferro poderão ajustar a produção, mas, atualmente, é muito cedo para saber.”

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