De acordo com relatório elaborado pelo Comitê Independente de Assessoramento Extraordinário, contratado pela Vale, também foi encontrado um buraco de 70 metros de profundidade na represa, que ''pode ter causado pertubações nas camadas de rejeitos''
O Comitê Independente de Assessoramento Extraordinário (CIAE-A), contratado pela Vale para apurar as causas do rompimento da Barragem 1 da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Grande BH, concluiu o relatório sobre a represa e trouxe novos dados sobre as falhas que levaram à catástrofe. Até a publicação desta matéria, 259 pessoas morreram e 11 continuam desaparecidas.
O documento de 50 páginas apresenta uma série de causas para o colapso da estrutura e, mais uma vez, confirma que o rompimento aconteceu por liquefação (transformação do sólido em líquido).
De acordo com o CIAE-A, desde 1995, ou seja, há 25 anos, "já existiam registros de problemas de drenagem interna que resultavam em alto nível freático na barragem”.
Naquele ano, a empresa Tecnosolo apresentou à Ferteco Mineração, então proprietária do barramento, “considerações sobre condições desfavoráveis de segurança” da estrutura.
Problemas parecidos foram encontrados, também, nos alteamentos a montante da estrutura.
O relatório cita, ainda, uma perfuração de 70 metros de profundidade e 10 centímetros de diâmetro na represa. O buraco, segundo os técnicos, não tende a causar a liquefação, contudo pode ter “causado pertubações nas camadas de rejeitos”.
O comitê também detectou que "houve consideração inadequada de questões relacionadas à estabilidade ao longo" da existência do barramento.
Essa última constatação inclui não só a Vale, mas também a Ferteco Mineração, que foi dona de Córrego do Feijão entre 1970 e 2001, quando a Vale comprou o complexo minerário.
Novos avisos
Em 2003, a Vale contratou duas empresas para inspecionar a barragem que se rompeu em Brumadinho: o Consórcio Dam DF e a Pimenta de Ávila.
Ambas as empresas confirmaram que os dados apurados sobre a represa estavam abaixo do mínimo recomendado e a situação era "extremamente desconfortável".
Entre 2010 e 2013, a Pimenta de Ávila continuou avaliando a estrutura. A empresa recomendou à Vale a realização de análises sobre liquefação da barragem. Esse estudo deveria ser feito anualmente, justamente pelos índices preocupantes. Antes desse aviso, o teste anterior havia sido executado em 2006 pela Geoconsultoria.
Apesar dos avisos, o exame das condições da barragem quanto à liquefação só foi feito em 2014, quatro anos depois da primeira recomendação da Pimenta de Ávila.
O resultado do exame, novamente realizado pela Geoconsultoria, concluiu que havia uma possibilidade remota de liquefação. No entanto, o procedimento foi realizado com base em dados apurados em 2005, ou seja, não houve nova apuração dos números.
Além das causas do rompimento, o Comitê Independente de Assessoramento Extraordinário (CIAE-A) apresentou 25 medidas a serem adotadas pela Vale para evitar novas tragédias.
Entre os pedidos estão avaliações sobre o rompimento de outras estruturas da mineradora, aprimoramento do plano de emergência e adoção de critérios consistentes para avaliar as barragens.
O documento ressalta também a necessidade da Vale revisar o seu quadro de colaboradores de geotecnia e repensar o plano de carreira da área. A empresa também precisa, segundo o comitê, de aprimorar sua estrutura para receber denúncias de moradores e suas auditorias internas.
Outro lado
Em nota divulgada em seu site oficial, a Vale informou que o relatório do comitê "traz recomendações de natureza técnica e de governança". Segundo a empresa, a maior parte dessas recomendações “diz respeito a temas que já vêm sendo tratados pela companhia por meio de inúmeras ações para aprimoramento de seus controles internos”.
A mineradora informou, ainda, que divulgará em até 30 dias um cronograma de implementação de referidas ações.
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