O embargo da China à importação de carne brasileira por causa de dois casos de mal da vaca louca em frigoríficos de Minas Gerais e Mato Grosso fez a carne ficar mais barata para exportação. Mas essa redução não será sentida pelo brasileiro, que continuará pagando caro.
Desde a suspensão das vendas, em 4 de setembro, a cotação da arroba do boi já caiu, na média nacional, 9,5%, mas, segundo especialistas, essa redução não vai chegar ao bolso do consumidor porque os cortes exportados para a Ásia são diferentes dos comercializados no mercado interno e, para compensar a queda nas exportações, os frigoríficos reduziram os abates para segurar os preços.
No começo do mês, um relatório da Organização Mundial da Saúde Animal (OMSA), a pedido do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), apontou que não há risco de proliferação da doença no rebanho brasileiro ou risco de contaminação para os consumidores e, embora a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) tenha mantido o status do Brasil de 'país com risco insignificante para a EEB', a China continuou sem comprar carnes.
A suspensão já dura mais de 50 dias.
Carne continua cara Maurício Palma Nogueira, diretor da consultoria pecuária Athenagro, diz que os brasileiros não vão sentir redução de preço.
"No caso da carne bovina, os mercados asiáticos importam cortes dianteiros e miúdos [70% das exportações são desses cortes], e o mercado doméstico consome mais cortes traseiros, carnes de primeira. O efeito imediato foi uma menor oferta de carnes no mercado interno, o que continua sustentando os preços", afirma. No varejo, no mesmo período da queda das cotações, cortes desossados de traseiro bovino registraram alta de 0,62%, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA). "O consumidor não vai ver os preços serem reduzidos por conta da suspensão das exportações chinesas porque os frigoríficos vão fazer essa regulação", afirmou Nogueira.
Jogada econômica da China Para o diretor da Atheagro, Maurício Palma Nogueira, a situação foi uma oportunidade que os chineses enxergaram para tentar frear o preço da carne. "A carne bovina vinha em uma tendência de alta no mercado externo, e a suspensão abriu a oportunidade de negociação dos preços", disse.
"Agora os chineses, que têm uma demanda grande [490 mil toneladas entre janeiro e julho deste ano], estão impondo suas condições para retomar a importação. O preço da arroba caiu, na média mensal, 9,5%, e eles [chineses] conseguiram até comprar mais carne da Argentina". As exportações argentinas estavam limitadas desde o primeiro semestre, quando o governo limitou os embarques pela metade para tentar conter o avanço dos preços da carne no seu mercado interno.
"É claramente uma situação que não tem a ver com questões sanitárias, e sim econômicas", afirmou Nogueira. "É o pragmatismo chinês". Na semana passada, a bancada ruralista da Câmara apontou que o veto à importação poderia também ser uma retaliação às constantes críticas do presidente Jair Bolsonaro ao governo chinês.
Tentativa de solução.
Na semana passada, a ministra Tereza Cristina (Agricultura, Pecuária e Abastecimento) anunciou que pretende ir à China resolver a questão com autoridades locais.
O ministro das Relações Exteriores, Carlos França, realizou videoconferência com o ministro de Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, sobre a retomada das exportações de carne bovina.
As informações foram divulgadas no Twitter do Itamaraty. Segundo a divulgação, o ministro chinês disse acreditar que o assunto será "resolvido rapidamente".
China é grande consumidora do Brasil.
Apesar da manutenção do embargo à carne bovina pela China, as estatísticas apontaram que, entre janeiro e setembro de 2021, os chineses foram responsáveis por 50% das exportações de carne bovina (1,27 milhão de toneladas) e, em setembro, mês do embargo, o país foi responsável por comprar 60,2% (889 mil toneladas) da carne brasileira, segundo a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo).
Em Mato Grosso, que tem o maior rebanho bovino do Brasil e é, também, o maior produtor de carne, setembro foi um mês positivo, com US$ 252,6 milhões em exportações de carnes bovinas, um aumento de 89,5% em relação ao mesmo período do ano passado.
"Muitos contratos de exportação já haviam sido firmados antes da suspensão e foram cumpridos ao longo do mês, por isso o resultado positivo", analisou Bruno de Jesus Andrade, Diretor de Operações do Instituto Mato-grossense da Carne (Imac).
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