Para Campos Neto, melhoria da arrecadação poderia amenizar custo social da inflação sobre a população de menor renda
O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, disse nesta quarta (1º) que a melhoria da arrecadação, decorrente da alta global de preços, poderia ser usada para subsidiar temporariamente itens como alimentos e energia. Em videoconferência com instituições financeiras internacionais, ele sugeriu que essas medidas poderiam amenizar o custo social da inflação sobre a população de menor renda.
Para o economista, a dinâmica do mercado nem sempre pode corrigir choques de preços causados por eventos externos. No entanto, ele defende a ideia de que ajudas como subsídios sejam apenas provisórias e evitem a criação de gastos permanentes, o que poderia prejudicar as contas públicas no futuro.
“Temos um grande custo social. Preços de alimentos estão subindo, preço da energia está subindo, e temos a parcela mais pobre da população com necessidade de alguma assistência. Transferir uma parte do choque positivo [aumento de arrecadação] para resolver as questões sociais, via subsídios. Essa é uma solução boa, mas o problema é: uma vez que você cria os subsídios, há o risco de se tornarem um gasto permanente”, declarou Campos Neto.
Para o presidente do BC, as exportações recordes de grãos e de petróleo estão beneficiando o Brasil e impulsionando a arrecadação do governo. Desde o segundo semestre de 2020, as commodities (bens primários com cotação internacional) têm se valorizado. Com o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro, as cotações subiram ainda mais e atingiram os maiores níveis em quase 20 anos.
Favorável à aplicação de subsídios em algumas circunstâncias, Campos Neto disse ser contra a intervenção direta nos custos de produção, como tem sido feito em países europeus.
Ele também disse que, neste momento de forte inflação, a solução "liberal", de esperar os preços se adequarem de acordo com a oferta e a demanda, não seria eficiente. Para ele, mexer nos custos de produção pode prejudicar os investimentos privados, levando à defasagem em infraestrutura e a gargalos na produção no futuro.
“Se intervirmos em preços, no processo de produzir petróleo e energia, isso resolverá o problema no curto prazo, mas desencorajará investimentos. Ao final, eu acho que o setor privado é que vai resolver o problema, e não os governos”, comentou.
O presidente do BC deu uma palestra na Conferência Global BIS Green Swan 2022. O encontro, realizado por videoconferência, foi promovido pelo BIS (Banco de Compensações Internacionais), espécie de Banco Central dos bancos centrais, em parceria com o Banco Central Europeu, o Banco Popular da China e a Network for Greening the Financial System, rede que pretende estimular a economia verde no sistema financeiro.
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