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quinta-feira, 20 de junho de 2013

Plenária Estatutária: para painelistas, juventude reivindica mais gastos públicos

Na mesa sobre conjuntura, João Felício e André Singer analisaram as manifestações que estão tomando conta das ruas e o papel do sindicalismo.

As manifestações da juventude que tomam as ruas das principais cidades do país ganhou destaque nas intervenções dos dois convidados responsáveis por analisar a conjuntura nacional e internacional, durante o primeiro painel da Plenária Estatutária da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT), na manhã desta quarta-feira (19).
 
Crédito: Paulo de Souza
João Felício: pauta dos jovens é a mesma da CUT
João Felício: pauta dos jovens é a mesma da CUT
O secretário nacional de Relações Internacionais da CUT, João Felício, considerou que a agenda da juventude está correta, ao reivindicar educação, saúde, segurança e transporte público. “A pauta é a mesma da CUT”, disse, avaliando, no entanto, que o movimento sindical pode estar sendo “conservador na ação”.

O dirigente apontou outros fatores para as manifestações. "Houve uma ascensão social, e é natural que as pessoas cobrem mais. Essa agenda da juventude está absolutamente correta. Quem avalia positivamente a qualidade do ensino, quem é que gosta do atendimento médico-hospitalar, quem é que gosta da segurança? Mesmo reconhecendo os avanços sociais, ainda há muito espaço para questionar o poder público. E vamos ter de conviver com isso até 2014", disse, destacando a necessidade de enfrentar as candidaturas contrárias àquela que, provavelmente, será liderada por Dilma Rousseff. "Qualquer outra proposta será contra os mais pobres deste país".

Felício acrescentou também que não se pode questionar o perfil dos manifestantes. "É verdade que a maioria da juventude que está lá não é juventude operária, é classe média e classe média-alta. Mas sempre foi assim", lembrou, citando os protestos de maio de 1968 na França e o encontro entre "operários e uma juventude mais escolarizada".
Para o dirigente da CUT, o movimento sindical também precisa mudar o jeito de se comunicar. Ao lembrar que em seu início de militância ele rodava boletins em mimeógrafos, o dirigente disse considerar "apaixonantes" as redes sociais. "Será que as nossas organizações não estão precisando se reformular um pouco?", questionou.

Novo ciclo
Para o professor André Singer, do Departamento de Ciências Políticas da Universidade de São Paulo (USP), o país pode estar à beira de um novo ciclo de conflito relacionado à distribuição de renda no país. Segundo ele, quem tem ido para as ruas é de fato a classe média, mas as manifestações contam também com uma nova classe trabalhadora, incorporada recentemente ao mercado, mas ainda em empregos precários, de baixa remuneração, e sujeitos à rotatividade.
 
Crédito: Paulo de Souza
Para Singer, país vive novo cilo
Para Singer, país vive novo ciclo
Singer acredita que o Brasil presencia o movimento de massas mais importante desde o impeachment de Fernando Collor, em 1992, e que caminha para se tornar o mais significativo desde a campanha das Diretas Já, em 1984. O que acontece agora também pode ser interpretado como uma reação ao que ele chama de processo de burocratização das organizações. Nesse sentido, ele dirigiu-se aos dirigentes metalúrgicos para alertar sobre os riscos de uma possível excessiva institucionalização que poderia atingir o movimento sindical. "A base precisar estar sempre atenta".

O professor avaliou que a aliança de governo formada em 2003 foi não apenas política, mas de classes. Ele entende, porém, que o período de "milagre do lulismo" acabou em 2008, mas isso não foi percebido imediatamente. "O que não se viu é que a crise iria se estender no tempo, sem horizonte claro para terminar. Ao não terminar, está batendo na economia brasileira e nas condições que propiciaram o milagre. Esses movimentos são de fato heterogêneos, mas acho que há uma direção: querem mais gasto público, mais gasto social, enquanto o Estado, sob o impacto da crise internacional, é pressionado a cortar gastos".

E o que foi esse milagre? Segundo o professor, consistiu em realizar mudanças no país sem ruptura nem confronto com o capital, mantendo uma política econômica "neoliberal" e ao mesmo tempo promovendo aumentos expressivos do salário mínimo e uma transferência de renda a níveis nunca vistos, além de aumentar o crédito, melhorando de forma expressiva as condições da "camada de baixo" da pirâmide social. "O problema brasileiro é que até pouco atrás metade da população não estava incluída nas condições mínimas, com carteira assinada, por exemplo. Estava fora da luta de classes".

O Brasil também foi favorecido por uma conjuntura econômica mundial que mudou, para melhor, exatamente em 2003, incluindo valorização das commodities, o que fez dobrar o valor das exportações brasileiras. "Um elemento de sorte, complementado pelo que Maquiavel chamou de virtú", observou Singer. "O presidente Lula soube muito bem aproveitar as circunstâncias." Ele acredita que a presidenta Dilma Rousseff tomou medidas corajosas, como estimular uma política de redução de juros, comprar uma briga com os bancos pela diminuição do spread e alterar as regras de remuneração da poupança, no que ele chama de "ensaio de desenvolvimento". Mas a falta de investimento atual pode indicar, segundo o professor, "os limites do pacto de classes" promovidos no início do governo Lula.

Agora, ouve-se o "apito da panela de pressão", expressão usada há tempos nos protestos estudantis. "É possível que a gente esteja na beirada de um novo ciclo de conflito distributivo."

Ele não vê risco de golpe, como um metalúrgico chegou a perguntar, mas observou que as pessoas têm de se manter atentas para defender a democracia. "Foi uma conquista muito árdua e intensa, sobretudo para a classe trabalhadora".
(Fonte: Vitor Nuzzi – Rede Brasil Atual)
 

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