O encontro entre os ex-presidentes Lula e FHC realça que o momento atual é o da conversa das várias forças democráticas para combater o bolsonarismo. Esse é o diagnóstico que embalou o almoço de ambos e que foi organizado por Nelson Jobim, uma liderança política que dialoga com todos e que passou pelos principais postos dos três Poderes da República brasileira. O que está em jogo são os ganhos obtidos pela democracia do país durante cerca de 30 anos, conquistados a duras penas, e para os quais tanto FHC como Lula tiveram participação decisiva.
O almoço, obviamente, não selou uma aliança política imediata. O mais provável é que cada um deles esteja em lados diferentes no primeiro turno da próxima eleição presidencial. Uma candidatura petista é quase irreversível, dado que Lula larga no mínimo com 30% dos votos. A busca de uma terceira via é uma aposta de FHC, seja para construir uma candidatura competitiva, seja para ajudar a montar para o longo prazo esse campo disperso que hoje ganha o nome de centro.
De todo modo, já se anuncia uma grande novidade para 2022 em relação a 2018: dessa vez, se houver um segundo turno entre Lula e Bolsonaro, muita gente que anulou o voto ou mesmo apoiou a candidatura bolsonarista ficará sem titubear com a liderança petista. Isso significa, em outras palavras, que parte do forte antipetismo presente no último pleito está se reduzindo, gradativamente, graças ao trágico governo atual. Vender o lulismo como comunista ou corrupto provavelmente não será suficiente para fazer com que muitos eleitores mais ao centro votem em Bolsonaro. As pesquisas já estão revelando isso agora, e, se houver mais um ano e meio de desastres na Educação, na Saúde, no Meio Ambiente e para a renda da população brasileira, haverá menores chances ainda de reeleição.
Mas o encontro dos ex-presidentes revela mais uma coisa: qualquer projeto de terceira via só é exequível se o adversário escolhido para ser batido for Bolsonaro. Isso é válido tanto do ponto de vista de conquista de votos quanto em relação à defesa de uma visão de mundo que é mais oposta ao bolsonarismo do que ao lulismo. Essa foi a lição que FHC, no alto dos seus quase 90 anos, deixou para os políticos mais ao centro.
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