Sem jogos não há remuneração, a Associação Nacional de Árbitros de Futebol (Anaf) enviou na semana passada um pedido à CBF para amenizar o impacto financeiro: uma antecipação. O EXTRA apurou que a entidade já topou adiantar o valor correspondente à cota de um jogo para cada árbitro do quadro nacional. O montante a ser recebido individualmente leva em conta a categoria de cada um. Na Série A, quem é Fifa, por exemplo, ganha R$ 5 mil como árbitro central.
Inicialmente, a proposta da Anaf era de que a CBF repassasse R$ 2 mil por mês a cada árbitro de elite. O valor também se aplicaria aos que estão na categoria master. Para quem pertence às categorias A e B, o valor mensal seria de R$ 1 mil. A base da pirâmide do quadro nacional receberia R$ 500.
O total do adiantamento, segundo estimativa interna da CBF, representará algo em torno de R$ 900 mil. O dinheiro será abatido de escalações futuras dos árbitros. O suporte financeiro não é obrigatório porque nem sequer há vínculo empregatício entre as partes.
— Juridicamente, os árbitros são prestadores de serviço. Mesmo com a profissão já reconhecida por lei, não há profissionalização. Ainda assim, muitos vivem só da arbitragem. Um árbitro Fifa que apita Libertadores viaja segunda-feira e volta na quinta. Como é que tem emprego assim? A CBF não tem número de quem vive exclusivamente da arbitragem. Pedimos compreensão— disse o presidente da Anaf, Salmo Valentim.
Como se virar?
Os árbitros evitam falar abertamente sobre sua situação pessoal. Quem é de elite e se dedica de forma integral ao apito ainda tem reservas, mas se depara com um corte brusco no orçamento. Autônomos se preocupam mais, já que veem duas fontes de renda interrompidas por causa da quarentena. Funcionários públicos estão mais seguros. Em Pernambuco, a Federação liberou R$ 10 mil para serem divididos em ajuda emergencial a 50 árbitros.
No isolamento, cada um se vira como pode. E isso vale também em relação à preparação física. A comissão de arbitragem da CBF enviou exercícios visando à manutenção da condição de cada um. Mas a tarefa é complexa.
— Temos um equipamento ou outro, como halteres ou elásticos. Tento fazer na escada de casa, na varanda. Tem gente que tenta alugar bicicleta ou esteira. Mas está concorrido. É difícil replicar o que se faz dentro de campo no espaço reduzido. Não queremos perder agilidade e coordenação, coisas básicas — diz o carioca Bruno Arleu, que neste ano entrou para o quadro da Fifa.
Na programação, entram polichinelos, flexões e movimentos de mudança de direção. Mas os árbitros sabem que não podem exagerar na carga. Uma lesão só atrapalharia ainda mais.
Atendimento à distância
Outro aspecto que demanda suporte à distância é a preparação teórica. CBF e a Federação Paulista, por exemplo, enviam vídeos para análise. Responder é opcional, e o dever de casa não vale nota. Mas serve como parâmetro para que os instrutores saibam quais pontos reforçar.
A busca pela excelência proposta por Terry Orlick tem no quesito psicológico um pilar fundamental. O atendimento aos árbitros, constantemente sob pressão, não é consequência da pandemia, mas a preocupação aumentou desde a paralisação do calendário.
— A psicóloga sugere leituras e faz uma retroalimentação sobre o que lemos, fazendo trabalhos cognitivos. Em aplicativos de celular, trabalhamos concentração e velocidade de reação — conta Bruno Arleu.
Em São Paulo, a demanda pelo atendimento psicológico cresceu gradativamente com a pausa. Cada sessão (virtual) dura 30 minutos.
— Começamos com três dias da semana, mas a agenda encheu. Agora, o atendimento gratuito fica à disposição de segunda à sexta, das 9h às 13h — relata Ana Paula Oliveira, chefe da comissão de arbitragem paulista.
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