Um boato maldoso e a esperança de enriquecimento rápido atraíram milhares de pessoas para um garimpo ilegal na pequena Aripuanã, noroeste do Mato Grosso. O ouro está lá, mas é de difícil extração e já possui dono, o que pode gerar conflitos
A maioria dos brasileiros não faz ideia onde fica Aripuanã, no noroeste do Mato Grosso, a 976 quilômetros de Cuiabá. Mas, o boato ilusório de que ali está surgindo uma nova Serra Pelada atraiu cerca de três mil pessoas. Elas foram para um topo de morro conhecido como Grota da Anta, na Fazenda Dardanellos, a 11 quilômetros da cidade. Na base da picareta e carregando nas costas sacos de 50 quilos de terra e pedras, a área foi aberta ilegalmente. A vala mais profunda supera doze metros e pode desmoronar. Diante do risco, o sonho de encontrar ouro se mantém incerto para a maioria.
Entre os garimpeiros experientes, há quem ache que a empreitada está perto de dar lucro, com a extração de cerca de meio grama de ouro a cada 40 ou 50 quilos escavados. Dá pouco mais de R$ 70 por saco e é preciso no mínimo uma tonelada de material para fazer R$ 1,5 mil. Como não há água, é preciso levar tudo para caminhões e caminhonetes que seguem dali. O uso de mercúrio para separar o ouro da rocha já começa a poluir os córregos da região. A extração manual é difícil, pois o minério está fundo e surge em pequenas quantias. Ali não há pepitas reluzentes para os afortunados, como ocorria em Serra Pelada, no Pará, na primeira metade da década de 1980.
Com medo de conflitos, a PM tentou interditar a área a pedido dos proprietários. O prefeito de Aripuanã Jonas Rodrigues da Silva (PR) foi à Cuiabá pedir ajuda. Ele quer policiais e agentes de saúde. Um dos receios é que gente vinda de outros locais traga malária à cidade. Por enquanto não há registro da doença. Aripuanã é pacata para os padrões da fronteira agrícola. Com 22 mil habitantes, teve quatro assassinatos em 2014, de acordo com o Mapa da Violência — os dados não estão atualizados. Os moradores também estão preocupados com a presença de desistentes sem dinheiro dormindo pelas ruas. Por enquanto, a solidariedade garante pratos de comida, mas os ânimos podem esquentar. Lucro mesmo, só para os donos de mercados e lojas de equipamentos agrícolas.
A corrida do ouro começou como vingança. Os proprietários da terra expulsaram alguns garimpeiros, que espalharam em redes sociais que ali estava a nova Serra Pelada, mostrando pepitas e escavações de outros lugares. A notícia se espalhou, até que no último final de semana de outubro cerca de 600 pessoas apareceram na rodoviária de uma vez. “Foi uma maldade. Essa gente só quer mudar de vida”, diz o secretário municipal Bartolomeu Castelhano. Para complicar, a mineradora Nexa, do Grupo Votorantim, possui direitos para operar na serra ao redor da Grota da Anta. A licença de instalação deve sair em dezembro. A empresa pretende extrair zinco, além de chumbo, cobre, prata e ouro. A mina será subterrânea e teria reservas para 20 anos de atividade. Porém, bastaria um filão mais concentrado surgir para uma nova febre do ouro atrair milhares, o que poderia conflagrar Aripuanã, como ocorreu tantas vezes em Serra Pelada.
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