Reportagem revela diálogo do ministro com o ex-presidente da Transpetro.
À TV Globo, Jucá disse que 'pacto' seria para destravar crise, e não Lava Jato.
Gravações obtidas pelo jornal "Folha de S.Paulo" mostram o novo
ministro do Planejamento, Romero Jucá, sugerindo ao ex-presidente da
Transpetro Sérgio Machado um "pacto" para tentar barrar a Operação Lava
Jato.
As conversas ocorreram em março deste ano, mas as datas dos diálogos não foram divulgadas (leia ao final desta reportagem trechos da conversa). A gravação, segundo informou o jornal, está em poder da Procuradoria Geral da República (PGR).
Romero Jucá
confirmou à TV Globo que teve a conversa com o ex-presidente da
Transpetro, subsidiária da Petrobras responsável pelo transporte de
combustíveis. Segundo o ministro, Sérgio Machado o procurou em sua casa.
Senador licenciado e primeiro vice-presidente do PMDB, Jucá é alvo de dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) que investigam suspeita de que ele recebeu propina do esquema de corrupção que atuava na Petrobras.
Indicado pelo PMDB, Sérgio Machado presidiu a Transpetro
entre 2003 e 2015. Ele se desligou da estatal do petróleo após
denúncias de envolvimento no esquema de corrupção investigado na Lava
Jato.
Machado foi citado nas delações premiadas do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa
e do senador cassado Delcício do Amaral (sem partido-MS). O Ministério
Público Federal apurou que o presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), teria recebido propina de contratos da Transpetro na época em
que a subsidiária era presidida por Machado.
No início da tarde, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
disse que não tinha “nada a declarar”, ao ser questionado se Machado
negocia um acordo de delação premiada. “Qual delação?”, respondeu, ao
ser indagado por jornalistas, após participar de reunião do Conselho
Superior do Ministério Público Federal.
De acordo com a reportagem da "Folha", Romero Jucá sugeriu na conversa
com o ex-presidente da subsidiária da Petrobras que uma "mudança" no
governo federal resultaria em um pacto para "estancar a sangria"
representada pela Lava Jato. O peemedebista foi um dos dos principais
articuladores do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
No diálogo divulgado pela "Folha de S.Paulo", Sérgio Machado diz ao
ministro que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, queria
pegar Jucá e outros parlamentares do PMDB investigados na Lava Jato.
"O Janot está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho. Ele
acha que sou o caixa de vocês", ressalta Machado em um dos trechos da
conversa.
Ainda conforme a reportagem, o ex-presidente da Transpetro fez uma
ameaça velada e pediu que fosse montada uma estrutura para protegê-lo.
Em outro trecho, de acordo com a "Folha de S.Paulo", Sérgio Machado voltou a dizer: "Então, eu estou preocupado com o quê? Comigo e com vocês. A gente tem que encontrar uma saída".
Em outro trecho, de acordo com a "Folha de S.Paulo", Sérgio Machado voltou a dizer: "Então, eu estou preocupado com o quê? Comigo e com vocês. A gente tem que encontrar uma saída".
O ex-dirigente da Transpetro disse que novas delações na Lava Jato não
deixariam "pedra sobre pedra". E Jucá concordou que o caso de Sérgio
Machado não poderia ficar nas mãos do juiz federal Sérgio Moro,
responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância.
Na gravação, ainda segundo o jornal, o ex-presidente da Transpetro
afirma ao então senador do PMDB que, "a solução mais fácil" era colocar
Michel Temer no comando da Presidência.
Jucá concorda com o interlocutor e ressalta que somente Renan
Calheiros, que, segundo ele, "não gosta de Temer", é contra a proposta
de afastar Dilma do Palácio do Planalto por meio de um processo de
impeachment.
"Só o Renan que está contra essa porra. Porque não gosta do Michel,
porque o Michel é Eduardo Cunha. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o
Eduardo Cunha está morto, porra", diz Jucá ao ex-presidente da
Transpetro.
Na sequência, Machado destaca que é preciso "botar o Michel num grande acordo nacional".
"Com o Supremo, com tudo", enfatiza o ministro.
"Com tudo, aí parava tudo", concorda Machado.
"É. Delimitava onde está, pronto", avalia Romero Jucá, sugerindo que
quem já está sendo investigado continuaria alvo da Lava Jato, mas quem
ainda não faz parte da apuração do esquema de corrupção ficaria
blindado.
Juca também disse na gravação que havia mantido conversas com ministros
do Supremo, mas ele não menciona o nome dos magistrados com os quais
teria falado. Ele ressalta, entretanto, que são "poucos" os ministros da
Suprema Corte aos quais ele não tem acesso.
O ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, seria um desses
ministros, destacou o peemedebista, que acrescentou que Teori é "um
cara fechado.
Um dos investigadores da Lava Jato, o delegado da Polícia Federal Igor
Romário de Paula comentou nesta segunda-feira, em uma entrevista
coletiva em Curitiba, que a corporação foi "pega de surpresa" com o teor
da conversa entre Romero Jucá e Sérgio Machado.
O delegado disse que a origem do áudio deve ser apurada no foro
adequado. Ele também negou qualquer interferência no trabalho da Lava
Jato por conta da troca de governo. "O trabalho segue normalmente",
enfatizou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.